Quando os dias estão assim desajeitados, corridos em horas aflitas, amontoando-se em pilhas desequilibradas, o melhor a fazer é fazer silêncio. Silêncio em respeito à falta de respeito, à intolerância, à mediocridade, à ignorância. Silêncio para respeitar essas e outras escolhas que todos fazem. Silêncio para evitar uma troca inútil de agressões. Silêncio para evitar a violência.
Quase todos os dias, quase sempre, tem sempre alguém querendo fazer bagunça, barulho, confusão. Tem sempre alguém frustrado, ferido, afogado em mágoa e incompreensão. Feito vento na água, pedra no sapato, sapato apertado. Tem sempre alguém querendo, muito, todas as coisas que não são de merecimento. O mundo está cheio de gente assim. Cheio feito saco cheio.
Silêncio. Respeito. Quietude. Segredo. Cabeça baixa às ofensas, porque o egoísmo não tem freio. Não tem forma, nem cheiro. Apodera-se de qualquer um que se distraia na vigilância de seus próprios anseios. Entra e atua, sorrateiro. E depois quase nada se pode fazer, pois se disfarça e finge ser o que não é. E finge muito bem, como se pode ver por aí, pelo mundo inteiro.
Então, silêncio.