quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sonhos indigestos

Sonhos de esperança e igualdade, segurança e caridade, direito e justiça. Esses sonhos não são sonhos para este mundo. Para este mundo, os sonhos são outros, são escuros, são suados, difíceis. São pesadelos alimentados pelo que temos por dentro: uma matéria densa e cruel, cheia de maldades e crimes, desrespeito e falta de vergonha.

Para onde caminham os habitantes inteligentes desse mundo?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Receita

Quando os dias estão assim desajeitados, corridos em horas aflitas, amontoando-se em pilhas desequilibradas, o melhor a fazer é fazer silêncio. Silêncio em respeito à falta de respeito, à intolerância, à mediocridade, à ignorância. Silêncio para respeitar essas e outras escolhas que todos fazem. Silêncio para evitar uma troca inútil de agressões. Silêncio para evitar a violência.

Quase todos os dias, quase sempre, tem sempre alguém querendo fazer bagunça, barulho, confusão. Tem sempre alguém frustrado, ferido, afogado em mágoa e incompreensão. Feito vento na água, pedra no sapato, sapato apertado. Tem sempre alguém querendo, muito, todas as coisas que não são de merecimento. O mundo está cheio de gente assim. Cheio feito saco cheio.

Silêncio. Respeito. Quietude. Segredo. Cabeça baixa às ofensas, porque o egoísmo não tem freio. Não tem forma, nem cheiro. Apodera-se de qualquer um que se distraia na vigilância de seus próprios anseios. Entra e atua, sorrateiro. E depois quase nada se pode fazer, pois se disfarça e finge ser o que não é. E finge muito bem, como se pode ver por aí, pelo mundo inteiro.

Então, silêncio. 

Dor

A dor é a escolha mais racional que um coração calado pode fazer. É o resultado justo da humildade amordaçada. A valiosa recompensa do egoísmo disfarçado. 

A dor é o último recurso do amor rejeitado, que já sem jeito não acha jeito de ensinar o be-a-bá do dia a dia exagerado que nós todos inventamos, pra nós mesmos.

A dor é o trilho para o trem desgovernado que fingimos conduzir. É o alarme intermitente, é o aviso de risco de acidente, é o grito de pavor no desastre iminente. 

A dor é o último apelo, é o guarda da fronteira. Além dela, não há nada: só o vazio. Bem mais vazio que o vazio que semeamos em nossos mundos traiçoeiros.