Juro que queria ter algo bom pra dizer, boa notícia pra dar. Mas esses dias escuros, com seus ventos cruzados, só me fazem pensar. E quando penso, dou de cara com o peso de tudo. A fraqueza, e seus muros. Suas bocas dentadas cravadas nas pernas que tremem, nos pés que descascam, cheios de furos. Pensar olhando no espelho é difícil pra burro.
Juro que tenho algo bom pra contar, tenho certeza, é só procurar. Mas aqui dentro é escuro, difícil de ver, cheio de lodo e limbo e tudo que faz o estômago rodar. Tinha aquele negócio, que aconteceu outro dia. Acho que lembro, foi ontem. Anteontem, não sei. A lembrança me trai de propósito, ri de rolar. Ri da minha cara de otário quando tento lembrar.
Juro que havia algo bonito, guardado aqui dentro. Eu vi de manhã, só não sei se foi hoje. Ou se foi ontem, ou no ano passado. Importa isso agora? De tanto pensar no tempo, no quando, o lance fugiu e não tenho nada a dizer. Só fico calado assistindo a parede tombar. Você crescendo tão rápido, todo mundo indo tão rápido. E eu tão quieto, do lado de cá.
Juro que nunca mais vou jurar, seja por qual santo for, porque minha cabeça já está até a tampa. Lotada de vazios e lacunas que o tempo desenha, sem graça, fazendo graça da desgraça que é remar o barco na lama, escutando tudo sem ouvir, vendo tudo sem enxergar. Esperando que a esperança funcione sem coração, ou que a fé me mova de lugar.
Juro que não juro mais nada, porque promessa não sei cumprir. Não sei não voltar a errar. Não sei direito fazer o certo e acabo errando o dobro, só de tentar. Às vezes acho isso injusto, mas se justo não sou, também não me cabe julgar. Portanto, não vou jurar nem que calo minha boca. Porque uma hora ou outra, vou precisar te chamar.