A ficha caiu, o tombo rolou. O escombro do tempo que passou, e que passa, sem mais, nem menos. A água que forma o granizo gritado na furiosa queda da tempestade pode ser a mesma contida na melancólica lágrima que cala, suave, as palavras não ditas, de um extremo ao outro. As duas coisas, as mesmas coisas, como o início e o fim.
A vida se cala no peito inanimado pela falta do tonus, que se esvai ao final dos sonhos que dão lugar ao mundo real. O mundo real, que de real não tem nada que possa ser tocado por este lado, a não ser pelo pensamento. Se é que alguém pensa nisso. Se é que alguém se lembra, depois, como era o antes, quando a vida ainda pulsava nas veias.
Não, ninguém se lembra de como era, a não ser de vez em quando, que é quando chega a saudade, sorrateira, sem sorrisos, matreira. Não, ninguém se importa até que chegue o momento de deitar-se no mesmo leito, para enfrentar o mesmo momento que todos, um dia, hão de enfrentar. O momento inadiável, a regra inabalável. O fim.
Ou o começo, tanto faz, quanto fez. Quantas vezes for preciso. Quantas vezes foi preciso antes dessa, e quantas ainda serão? As perguntas nunca se calam, mas as respostas perdem suas vozes dentro de passados tão distantes, de histórias tão distintas, caminhos tão errantes.
Tudo isso serviu para alguma coisa?