segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Surdez de coração

Nós corremos sobre as linhas que demarcam as fronteiras entre o que queremos e o que fazemos. Sobre as linhas que separam o que sentimos do que demonstramos. As linhas que nos separam da realidade.

Nós desenhamos linhas pontilhadas para limitar nossas possibilidades. Linhas cuidadosas, como pequenos passos, circundando, cercando. Mas nunca indo direto ao que realmente interessa.

Nós fazemos de conta que determinamos limites para afogar nossas imaginadas fraquezas, fantasiando de frieza o que mais nos emociona. E fazemos de conta que funciona do jeito que imaginamos.

Nós organizamos tudo de diversas formas, classificando e catalogando. Impomos ordens a tudo e nos esquecemos de que tudo deve acontecer naturalmente. Vivemos tentando exercer um controle que não existe.

Nós escolhemos aqueles que queremos como aliados ou inimigos, baseados em conceitos que nem fomos nós mesmos que criamos, mas que herdamos. Apadrinhamos ignorância e dela pouco conseguimos nos livrar.

Nós não temos coragem suficiente para cruzar as fronteiras porque nos ensinaram que isso levará à guerra. E não nos tocamos de que nem todo confronto precisa ser armado ou ter sangue derramado.

Nós sonhamos com acontecimentos especiais e com pessoas especiais ao mesmo tempo em que deixamos de ser especiais, porque pode ser que alguém não nos ache especiais. Não nos ensinaram a olhar primeiro no espelho.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Noite calada

Se a noite calada resolvesse falar, faria rimas de estrelas com cometas e constelações. Sussurraria versos diversos sobre alegrias e consternações. Faria de nós testemunhas de loucuras etílicas e distorcidas ilusões.

Se a noite calada resolvesse cantar, romperia o murmurar das folhas que dançam na brisa. Transformaria em notas nossas viagens mais loucas, tornando-as tão vivas que seria insuportável percebê-las tão vazias e esquivas.

Se a noite calada resolvesse calar, selaria o envelope dos sonhos, remetendo-nos aos vazios medonhos que tentamos evitar. Encontraríamos de frente o espelho sem notar que é a imagem que vemos que mais deveríamos amar.