quarta-feira, 31 de março de 2010

Outono

O canto de despedida dos pássaros anunciam novos dias, dias diferentes. Os ventos sussurram seus segredos para as árvores, que em respeito mudam suas cores do verde para um tom quase marrom. E, comovidas, choram suas folhas ao chão.

As nuvens movem-se mais velozmente, exibindo-se para a palidez que a luz do sol assume. Os dias tornam-se algo mais curtos, convidando a todos para noites mais claras e frias, para mais abraços e roupas mais aconchegantes e comportadas.

Esse ritual acontece todos os anos, mais cedo ou mais tarde, e não cansa. Há sempre algo diferente, uma luz diferente, um brilho dourado de fim de tarde que nos faz sentir saudades de casa, e de pessoas. Nos lembra um jantar perfumado sobre o fogão.

É a minha estação preferida, sem o calor insuportável do verão, ou as torrenciais chuvas primaveris. Ao mesmo tempo não é desolador como os dias cinzentos do inverno. Tem luz de sol, calor ao meio dia, vento à tarde e frio à noite. É o Outono, mais uma vez.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O relógio faz tic-tac

A prisão à qual nos condicionamos ao longo dos anos, essa que não tem paredes ou grades, essa que não tem vigias em seus muros. Sim, essa prisão da qual é impossível fugir mesmo seguindo os planos mais mirabolantes. Esse nosso lugar comum, ponto de encontro de egos e desesperos. Essa prisão nós criamos com muita esmero.

Um esforço desgastante e contínuo, embora sedutor e canalha. Um primor de engenharia, onde celebramos em ritos a nossa ignorância sem tamanho. É nessa prisão que escolhemos viver, com nosso comportamento de vírus. E dessa prisão, é difícil sair.

Agora, na mudança da maré, ao sol de novos dias, existem aqueles que tentam ir além dos muros, para longe dos faróis de busca. Uma tentativa de obter a liberdade mesmo num momento tão tardio. Mas o esforço é grande para calar estes quase ex-prisioneiros.

Nas páginas dos livros da matéria-mestra estão escritas as linhas que determinaram o nosso presente, que se esforça na tentativa de condenar nosso futuro. Basta ler com atenção para perceber que tipo de erva daninha nos tornamos desde o início.

E todos nós acreditamos em controles, de diversas formas. E tentamos obter algum controle, pois sabemos que isso existe. Pois se existe, então algum controle existe sobre nós e sobre todas as coisas, já que é ilógico pensar que tudo é obra de mero acaso.

Pensando assim fica muito claro que, de tanto forçar as coisas além de nossos próprios limites, é inevitável um rompimento. É inevitável que passemos de atores a platéia, assistindo aterrorizada o ruir dos muros que nos prendem. Nos sentiremos ameaçados sem os muros e as grades. E não saberemos o que fazer com tamanha liberdade.

Conjecturas absurdas

É preciso ter cuidado com o que pedimos, porque o pedido pode ser atendido, tornando-se verdade. E a verdade é um espelho que nem sempre reflete os ângulos que queremos ver.

É preciso pensar muito bem antes de fazer um pedido, já que uma série de conseqüências espera por trás de nossas decisões. Mas nos parece muito estranho que, para decidirmos um começo, devamos já imaginar um fim. Parece algo totalmente antinatural, isso a que dão o nome de cautela.

É preciso saber até que ponto estamos dispostos a ir, que preços seremos capazes de pagar. Afinal, pode ser que ultrapassemos o ponto seguro para retorno, e então será tarde demais.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O que eu quero é o que eu não tenho

Entre o que desejamos e o que temos há uma distância enorme. Pode ser a distância da falta de diálogo, ou os quilômetros de uma longa estrada. A falta de coragem, ou o excesso de confiança. Pode ser uma enorme timidez ou auto-proteção. Um olhar de desejo ou lágrimas magoadas.

As distâncias se apresentam de formas variadas, criando abismos entre nós mesmos. Entre os que se amam e os que se odeiam. Entre os que se desejam e os que se despedem. Pequenos abismos difíceis de transpor, mas tão fáceis de conceber. Um passo em falso, e a distância se faz verdadeira.

Mas vale muito a pena eliminar coisas tão dolorosas.

Nossas histórias, e nossos tempos

Nós perdemos tempo tentando encontrar o significado das coisas, para termos a certeza de que sabemos o que estamos fazendo. Nós perdemos tanto tempo com isso que nos esquecemos de viver.

Viver é entender o que vivenciamos, com intensidade, serenidade e profundidade. Mas o que fazemos é o inverso. Apenas planejamos. Planejamos a felicidade para a velhice, e o que é bom vai ficando para trás a cada segundo que jogamos fora.