sábado, 31 de julho de 2010

Igual, diferente, tanto faz...

Está tudo igual. As cortinas, os tapetes, o sol na sua posição habitual para essa época do ano. A quietude, com seus cantos de pássaros, o ponteiro do relógio, as revistas, os livros, os quadros. Está tudo igual. Simplesmente como antes. Da mesma forma em que tudo foi deixado, de um jeito cuidadosamente descuidado. Os móveis que não combinam, as paredes levemente manchadas. As lembranças de outros dias ecoando pelos cantos quase sem poeira, quase limpos, quase tudo... do mesmo jeito.

Está tudo diferente. Todas as cores mudaram suas nuances e seus brilhos, suas aparências enganosas e tão frágeis. Está tudo tão diferente desde então, quando todos os sonhos eram claros, cristalinos, bem diferentes dos borrões disformes de hoje. O hoje... com suas sombrias verdades escondidas sob escombros que mais parecem louça suja na pia, porém cuidadosamente organizada, só para não dar a impressão de uma grande confusão. A confusão, com tanto ruído e pouca demonstração de compaixão ou cumplicidade, tanto conteúdo agressivo e tanto... Vazio.

Curtas

Algumas pessoas deixam saudades, outras deixam feridas, outras nem têm mais importância. Algumas pessoas falam, outras escutam, algumas impõem, outras dispõem. Algumas pessoas sentem, outras mentem, algumas constroem, outras destroem. Algumas pessoas amam, outras enganam, algumas fogem, outras se escondem.

Sol e céu azul

Quando tudo parece certo, está tudo errado. Quando uma direção parece a correta, na verdade é apenas o atalho para um lugar mais distante. Quando o coração se revolta, parece que é por motivo algum. Quando a decepção nos alcança, é porque entendemos todos os motivos, todos os erros, e os poucos acertos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Indo e vindo

A fé e a falta da fé nos conduzem para o mesmo destino, embora sejam caminhos diferentes. Às vezes opostos, às vezes iguais. Depende do que levamos de bagagem.

Meios que justificam

A luta é para saber quem vai cair primeiro, quem vai desistir, quem vai entregar os pontos. A luta é para saber quem vai prevalecer, quem vai subjugar. A luta é para magoar, e ferir. A luta é para desviar o olhar, para não perceber que a dor que nós causamos é tão triste de se ver.

A luta é por controle, posse, obsessão. A luta é para destruir o que há no coração. É terrível, é covarde, a covardia é o fogo que não arde. A arma do fraco, a coragem vacilante, e o amor que nós sentimos, perdemos num instante. A luta é para sobreviver às guerras que criamos.

E no final nós vacilamos, caminhando apoiados nos escombros, tropeçando. Pisamos e pilhamos, levamos embora qualquer coisa que fique bonita na estante. É o prêmio, festejado, humilhante. É tudo o que tivemos de bonito enrolado em barbante. É o prêmio, é o vazio... Reluzindo, tão brilhante...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O amor

É muito fácil entender o amor, pois é simples teoria. Realmente difícil é entender o amor que as pessoas sentem, que já não são amor, são amores, diferentes, estranhos, exóticos, bizarros. Paixões, atrações, sexo, desejo. Uma vez satisfeitos, até mais ver, nos vemos depois, falamos semana que vem.

E semana que vem vira amanhã, porque a satisfação dura pouco no mundo de hoje. É preciso sempre mais, nem que seja do mesmo, até que o corpo não responda mais, até que as cenas se confundam, até que os sentimentos se traduzam para o que realmente são. E não são amor. São amores.

A esperança

A esperança é esperar sentado, desconfortável, sobre almofadas de sonhos ilusórios. É infantilizar a realidade e pintá-la com tintas que não se apegam. Esperança é o incentivo dos tolos que já não sabem mais explicar onde erraram, com quem erraram, porquê erraram.

A esperança é a última a morrer porque tudo o que não morre na matéria é sonho, e sonho é ilusão. Ilusão é esperança, e fomos nós que criamos essas e outras coisas, para fugir do que foge ao nosso controle, para esquecer o que deixamos escapar de nossas próprias mãos.

A espera

A espera é mais do que os minutos que gotejam, mais do que as horas que anseiam, mais do que os dias que vagueiam. A espera é mais do que o tempo que se arrasta, é mais do que a chuva que nunca passa. A espera é mais do que podemos ver, é tudo o que podemos sentir entre um intervalo e outro de um tempo vazio e silencioso.

A espera é mais do que podemos explicar, ver, tocar. A espera é tudo e nada ao mesmo tempo, corpos dançando no não-tempo e no não-espaço. É estar nu no centro de tudo, sob o olhar de todos, mas sem poder ver com os olhos, falar com a boca ou ouvir com sabedoria. A espera é o intervalo entre o falar e o calar, entre o pensar e o sentir. Entre eu e você.