quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ordem

Ouvi alguém chamar o meu nome, no meio da noite, no meio do sono, entre o que existe e o que é sonho. Senti um abraço tão morno em meio ao frio que eu sentia, que a meia noite quase virou meio dia. E toquei uma pele suave como a neve dos prados que ao sol derretia. Despertei fechando os olhos, vivendo o tempo ao contrário, desejando de volta a nudez que minha saudade vestia. E percebi que a distância, por tão grande que fosse, jamais me perturbaria.


Respirei o perfume do vento que levou embora o fogo da vela, e deixou entrar no aposento a desordem da luz cinza do inverno, pálida e bela, em sua quase não existência, como algo que existe em dois mundos ao mesmo tempo. Como a minha lembrança, que resiste aos encantos do esquecimento, me levando sempre de volta, vivendo o tempo ao contrário, devorando toda a distância que se coloca entre os momentos que tivemos antes do arrependimento.

Longas

Os longos caminhos, as estradas estreitas, as pedras tão secas, bancam espinhos. A jornada termina onde o fim recomeça. O fim e o começo são gêmeos siameses ligados ao tempo, e que não entendemos. Mecanismos complexos de simplicidade excêntrica, equações desconexas desnudando a inocência.


O que foi sempre seu termina onde começa o que é dos outros, e aos outros não importa se nos importamos com o que pensam. O que pensamos é nosso, nosso pobre sustento, e vivemos a vida vivenciando momentos. Pedaços quebrados da obra completa que chamamos de simples coincidência.

Curtas

Quanto mais descobrimos, menos sabemos. Quanto mais profundos os mistérios, mais superficiais os desejos. Quanto mais demorado o ensaio, mais rápido o erro. Quanto mais complexo o problema, mais simples a solução. Quanto maior o cansaço, menor o descanso. Quanto mais, quanto menos. A certeza é o de menos.