terça-feira, 30 de julho de 2013

+ Volume

Tem tanto barulho, tanto barulho. Escândalo, gritaria, motor, buzina. Idioma vira martírio. Chama, vende, aluga. Berra. Avisa. Chama a atenção, quer toda a atenção. Quer o caos só pra si. Tem tanto barulho, tanto barulho. Não se salva uma palavra, são todas vazias. É o choro, é o latido. É a porra do vizinho, é a casa do lado. É o aparelho de som, é o escárnio daninho. É foda. Tem tanto barulho. Tem tanto lixo. O que fazer nesse mundo tão repleto de imundície? Calar a boca e jamais se revoltar. Nunca perder o controle. Sorrir e aproveitar. Ser uma porra de santo nesse globo enfermo. Fingir que não tem nada acontecendo. Fazer de conta que não é tão ruim.

E enganar a si mesmo, achando que é fruto de algum engano estar aqui, no meio disso tudo.

Represa

A água corre, sem pressa, sem dar bola para o que vai encontrar pela frente. Leva o peixe, leva o barco, leva o céu refletido em si. Leva tudo o que aparece em seu caminho.

Mas quando encontra o muro, ou a comporta, nem sempre se comporta. Procura as brechas, as rachaduras, os vãos. Procura até que acha, e passa, pouco a pouco, de gota em gota.

Mas, se quiser, pode passar com tudo. Derrubar, espalhar, afogar. Fazer sumir o que estava no mapa. Rola a pedra, remexe a areia, derruba as pontes. Vai com toda força.

A água é a paciência.

E se...

... eu voltasse a escrever?

O que sairia?