Hoje eu eu vi um bosque improvável que me levou de volta à infância. E da infância eu corri por todos os anos da minha vida, e vi que havia vida, em sensações que não existem mais agora. Parece que tudo aquilo foi embora, mas só percebi agora. E foi assim: indo, indo, como se fosse o vento levando, mas não é assim, não. Não, não é.
Em todo caso parecia que dava pra sentir os perfumes dos matos e os sussurros dos ventos, e invadiram minhas muralhas as vozes e cores de antes, músicas, pessoas, muitas pessoas, ecoando na solidez imensa de paredes bem altas. Paredes que represam a alma, que guardam segredos, que escondem desejos. Foi uma longa lembrança, e foi muito real.
Foi uma coisa tão intensa, num momento tão intenso, que achei que ia morrer. Me senti fraco, sem fôlego, o corpo todo dolorido. Ficando todo inchado, tenso, suor escorrendo, zunido na orelha. Tentava andar, mas a visão ficava embaçada, nariz trancado. Imaginei que não seria difícil me encontrarem, eu estava por perto, então pensei simplesmente em deitar.
Mas não deitei. Só fiquei parado olhando as árvores baixas da beira do bosque, as que eu mais gosto, as que mais me fazem lembrar. E eu achei que ia morrer disso, mas não morri por lembrar. Mas doeu, como doeu, sentir que aquilo tudo ficou tão longe, e isso me fez chorar. Chorar e chorar. E foi o choro que me tirou o folego, que me deixou inchado.
Olha só, achei que chorar me faria morrer. Achei que entender tudo aquilo, mesmo olhando de tão longe, era um sinal de morte iminente. Assim funciona uma mente doente, te faz enxergar o que não existe, te faz fazer tudo ao contrário do que deveria. E, mesmo tendo visto isso, ainda parece que tudo aquilo ficou lá atrás, e não veio comigo.
Parece que existe um ponto no tempo, lá atrás, onde o elo partiu. E parece que o meu eu verdadeiro também ficou lá, e agora eu sou só isso aqui.
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