Pode parecer que tudo se repete, mas a vida nada mais é do que uma constante repetição. Um círculo de mesmas coisas, das quais pouco absorvemos. E pode parecer que tem fim, mas cada fim é nada mais que um muito bem disfarçado recomeço.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Tintas e papéis
Sim, tudo tem um tempo certo, e tudo leva um certo tempo. Sim, os pontos se ligam, embora seja difícil traçar as linhas, embora seja difícil enxergar a tinta sobre o papel, quando ambos são da mesma cor. Sim, cada dia é apenas um grão da história.
Às vezes as perguntas não necessitam de respostas, porque simplesmente não é hora de perguntar. Às vezes as respostas passam despercebidas, porque simplesmente não é hora de entendê-las. Às vezes é preciso ficar parado para movimentar o que nos rodeia.
Às vezes as perguntas não necessitam de respostas, porque simplesmente não é hora de perguntar. Às vezes as respostas passam despercebidas, porque simplesmente não é hora de entendê-las. Às vezes é preciso ficar parado para movimentar o que nos rodeia.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Liberdade
A verdade voa certa, voa reta. Seta que fere, depois liberta. Quebra as correntes, desfaz as amarras. Traz de volta ao caminho certo as histórias erradas. Esclarece o coração no idioma correto, faz cair as paredes que pareciam concretas. Remove a sombra, descortina a descoberta.
A verdade lava a alma, desfaz o feitiço. Traz o fim das dúvidas do início. A verdade, quando fala, cala as bocas que iludem, quebra as pernas dos espertos. Tira-os de perto, de volta à suas casas. Limpa a imundície que confunde e abre caminho para o que interessa.
A verdade lava a alma, desfaz o feitiço. Traz o fim das dúvidas do início. A verdade, quando fala, cala as bocas que iludem, quebra as pernas dos espertos. Tira-os de perto, de volta à suas casas. Limpa a imundície que confunde e abre caminho para o que interessa.
Matéria sutil
A imensidão é muito grande para as partículas que somos, para o suor que suamos, os esforços que sangramos. A imensidão é muito espaço para o pouco som de nossas vozes, o curto alcance de nossas preces, os segredos que guardamos.
Os espaços do espaço estão repletos de distância, assim como o ar que nos sustenta. Estamos quase fora de alcance dentro das bolhas que sopramos. Os passos que nos aproximam são os mesmos que nos levam pra longe. Os abraços que trocamos são iguais aos que evitamos.
Mas o vazio que nos separa não pode ser mero desperdício. Não faz sentido que seja isso, seria apenas dor. É inevitável que exista algo que nos ligue, mesmo no meio de tanta vastidão. Isso quem diz é o coração: o que nos liga deve ser, tão somente, o amor.
Os espaços do espaço estão repletos de distância, assim como o ar que nos sustenta. Estamos quase fora de alcance dentro das bolhas que sopramos. Os passos que nos aproximam são os mesmos que nos levam pra longe. Os abraços que trocamos são iguais aos que evitamos.
Mas o vazio que nos separa não pode ser mero desperdício. Não faz sentido que seja isso, seria apenas dor. É inevitável que exista algo que nos ligue, mesmo no meio de tanta vastidão. Isso quem diz é o coração: o que nos liga deve ser, tão somente, o amor.
Amores elementares
O amor da terra é a semente. O amor da água, o sustento. O amor do fogo é o calor. E, o do ar, o movimento. O amor humano é o beijo, que no silêncio diz tudo ao coração.
Desejos
Desejamos novas flores, novos verdes, novas cores. Novas chuvas, novos ventos, boas lavouras. Desejamos novos amores e a renovação dos que já existem. Desejamos um longo intervalo para as dores. Desejamos novos sóis, novos calores. Novas ideias, novas vidas. Novos sentidos, palavras nunca lidas.
Desejamos tudo de bom para que haja reconstrução. Desejamos um sorriso, um abraço. Um momento de carícia, um amasso. Desejamos viver o que as outras estações nos roubaram: o calor do corpo, os voos zunidos, os corpos unidos, as cores quentes, listradas. As forças refeitas, o pólen nos ares, o fim das guerras.
Desejamos essa nova primavera.
Desejamos tudo de bom para que haja reconstrução. Desejamos um sorriso, um abraço. Um momento de carícia, um amasso. Desejamos viver o que as outras estações nos roubaram: o calor do corpo, os voos zunidos, os corpos unidos, as cores quentes, listradas. As forças refeitas, o pólen nos ares, o fim das guerras.
Desejamos essa nova primavera.
Breve verdade
Veio a vida nos ensinar que nas veias correm as velhas e novas ideias, as velhas e novas visões, fazendo voltar o que vai e levando embora o que vem. Vem a vida nos mostrar o que viemos fazer com os vícios e vieses que envazamos na alma: viver e reviver até que vejamos que tudo isso, finalmente, ficou para trás.
Eu, tu, todos
Queremos companhia, queremos compartilhar. Queremos dividir o indivisível, queremos fazer com que tudo seja possível. Queremos, simplesmente, aprender a amar.
Meio dia
O meio dia, o meio do dia, o meio de nós, o meio dos dias. A hora do encontro, almoço, despedida. A hora de todos, todos na linha. Os passos na rua, as vias do compromisso. O vai e vem de tudo, o movimento que sustenta o mundo. O mundo que nos sustenta em suas crônicas e musas. De tudo o que fazemos, não gostamos de tudo, mas tudo o que fazemos têm os dedos de nossas mãos. O suor de nossos corpos, o limiar de nossas mentes. Nossos corações, seus sentimentos despertos, seus desejos dormentes. O meio do dia divide o que temos por dentro, muda o dia por inteiro, muda tudo do seu jeito. Conta histórias diferentes, traz o fim de muita coisa, traz de volta muita gente. Divide nossa rotina como se fosse a noite e seus perfumes de travesseiro. O meio do dia é fator de movimento.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
A luz dos anos
A luz dos anos foi se apagando, diminuindo. Minguou enquanto dormimos um sono estranho, de guerras e separações. A luz dos anos foi se escondendo daquilo que fomos nos tornando: um emaranhado de conflitos e distâncias.
A luz dos anos nos estuda mais do que nós mesmos, percebendo todas as nuances em nossas muitas mudanças. Nossas idas e vidas. A luz dos anos se distanciou, levando consigo sua grande sabedoria.
A luz dos anos nos estuda mais do que nós mesmos, percebendo todas as nuances em nossas muitas mudanças. Nossas idas e vidas. A luz dos anos se distanciou, levando consigo sua grande sabedoria.
A luz dos anos está agora a anos-luz.
Mas, um dia, vai voltar...
Coração e alma
O espírito liberto conduz a mente aberta para longe da confusão, para longe dos vazios da solidão. Por caminhos de curvas suaves, sem destino. Sem parada por cansaço, sem disfarce ou distração.
A liberdade do espírito está além de barras ou amarras, está além do que se entende. Está nas palavras verdadeiras, nas verdades do silêncio. Quietude sem temor, solidez que não se abala.
A liberdade do espírito está além de barras ou amarras, está além do que se entende. Está nas palavras verdadeiras, nas verdades do silêncio. Quietude sem temor, solidez que não se abala.
Uma pela outra
A vida espera a morte enquanto a morte espera a vida. Uma vive pela outra, sem mentira ou fantasia. Sem crenças infundadas, ou brincadeiras infantis. A fé e a falta de fé são caminhos parecidos, como o ódio é o amor fazendo-se invertido.
Mas o disfarce dura pouco: muito menos do que se imagina.
Mas o disfarce dura pouco: muito menos do que se imagina.
As pontas
De um extremo ao outro, da corda bamba ao conforto, do amor à promiscuidade, da presença à saudade. A humanidade se desfaz na falta do espírito, na fartura do vazio. Vai enterrando seus tesouros na areia que se move, escorrendo pelo tempo. Vai descendo as escadas de volta à escuros aposentos. Como numa nova Idade Média.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Rotos
Talvez o que mais perturbe não é o pobre, mas a pobreza. Porque o pobre faz proeza, faz de tudo quase sem cobre. Faz o que dá, e o que não dá faz outra parte depois, quando der, se der, sabe-se lá. O pobre não perturba por educação, pensa no outro, no agora. Vive o agora, como se fosse a última hora. Vive fazendo, tudo tentando. E depois de tentar de tudo, tenta de novo.
Mas o que estraga o pobre é a pobreza. O pobre estado de pobreza em que se encontra a humanidade. É muita pobreza: pobreza espiritual, mental, natural. Material. Muitos tipos, muito peso. Muita falta de caráter, muita falta de vergonha. Muita falta de fortuna na alma. Muito pouca alma com que contar. Mas os dias desses contos estão contados, ouviu-se contar.
Mas o que estraga o pobre é a pobreza. O pobre estado de pobreza em que se encontra a humanidade. É muita pobreza: pobreza espiritual, mental, natural. Material. Muitos tipos, muito peso. Muita falta de caráter, muita falta de vergonha. Muita falta de fortuna na alma. Muito pouca alma com que contar. Mas os dias desses contos estão contados, ouviu-se contar.
domingo, 18 de setembro de 2011
Circensis
No último ato, a última dança, a dança de fato, o movimento das sombras. As sombras que enganam as luzes que falham, as falhas que encantam as sombras que amansam.
Na última trilha, a última pedra. A pedra que calça, de pedra, a linha que risca e rabisca, sempre dançando, fazendo dançar quem vem passando, braços abertos, se equilibrando.
Na última trilha, a última pedra. A pedra que calça, de pedra, a linha que risca e rabisca, sempre dançando, fazendo dançar quem vem passando, braços abertos, se equilibrando.
Ácido presente
A humanidade está em coma auto induzido, está repleta de verbos desnecessários. Está cheia de crimes e violências, perdendo os poucos restos de noção e decência. A humanidade está deixando escapar seu único tesouro. Está deixando de ser inteligente, matando pessoas. Criando só gente.
Desfibrilação
O que fala ao coração é o silêncio, o respeito, o caráter, a intuição. O que fala ao coração é o que não se ouve por aí. Não é rumor, não é notícia. Não é o vazio, nem a malícia. O que fala ao coração só pode vir de outro coração, senão é só ruído, nada que prenda, realmente, a atenção.
O que fala ao coração é a dedicação, é o carinho. É o querer bem, é o fazer bem o que melhor se sabe fazer. O que fala ao coração é quase nada do que temos a dizer. É quase nada do que tanto desejamos, é quase nada do que temos. É quase nada do que realmente percebemos.
O que fala ao coração é a dedicação, é o carinho. É o querer bem, é o fazer bem o que melhor se sabe fazer. O que fala ao coração é quase nada do que temos a dizer. É quase nada do que tanto desejamos, é quase nada do que temos. É quase nada do que realmente percebemos.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
O que não é
Parece que a fonte seca, e parece que as folhas secam. Parece o inverno, mas então este já se foi. Parece cinza, mas é outra cor. Parece coração, mas é só razão. A razão do concreto, das formas retas, do serrilhado do horizonte. Parece hoje, mas foi ontem. Parece isso, mas é outra coisa.
Parece um vazio, mas se estivesse mesmo vazio, não haveria dentro o que há. Parece mais do que se consegue explicar. Complicado, mas não é. É o chão, é o céu. É como ser absolvido e continuar sendo réu. Parece o que não é, mas o que não é, é bem diferente do que parece.
Parece que não tem forma, feito nuvem em cima de nuvem. Parece que não para, feito vento súbito. Parece certeza, mas é dúvida. Parece liberdade, mas é dívida. Difícil de saldar, fácil de acumular. Como cúmulos acumulados que anunciam chuva forte. Parece que é chuva, mas é só garoa.
Parece um vazio, mas se estivesse mesmo vazio, não haveria dentro o que há. Parece mais do que se consegue explicar. Complicado, mas não é. É o chão, é o céu. É como ser absolvido e continuar sendo réu. Parece o que não é, mas o que não é, é bem diferente do que parece.
Parece que não tem forma, feito nuvem em cima de nuvem. Parece que não para, feito vento súbito. Parece certeza, mas é dúvida. Parece liberdade, mas é dívida. Difícil de saldar, fácil de acumular. Como cúmulos acumulados que anunciam chuva forte. Parece que é chuva, mas é só garoa.
As cordas
As cordas tocam, e prendem. Sustentam, e se arrebentam. Amarram, e mantém. Vibram, e bambeiam. Esticam, e penduram. Dão voltas, machucam. Enforcam, e afrouxam. E, quando caem, libertam.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Gramática
De que matéria é feita ninguém sabe, porque o que se sabe é o que todo mundo já sabe. Mas, saber é uma coisa. Entender, é outra.
Tudo o que é bonito, é feminino. É a cor, é a luz. É tudo o que uma curva traduz. Podem vir raios ou trovões, quem manda mesmo é a tempestade.
Substantivo feminino: perturbação atmosférica violenta, ligada aos movimentos verticais do ar. O ar que se respira desde o primeiro momento.
É tudo, o ar.
Tudo o que é bonito, é feminino. É a cor, é a luz. É tudo o que uma curva traduz. Podem vir raios ou trovões, quem manda mesmo é a tempestade.
Substantivo feminino: perturbação atmosférica violenta, ligada aos movimentos verticais do ar. O ar que se respira desde o primeiro momento.
É tudo, o ar.
Fluxo constante
Vai e vem, vem e vai. Diz que chegou, e já se foi. Volta, e torna. E torna a voltar o que já foi. E a coisa vai fluindo, em fluído movimento. Leva anos, leva um segundo, leva o momento na rapidez do rompimento. E flui seus caminhos, indiferente ao que se mente.
Assimétrico
Entre tantas páginas em branco, entre tantas linhas vazias, entre tanto espaço entre planetas, entre tantas ruas, casas e rostos. Entre tudo o que não se vê ou se toca. É lá. É lá que está.
A nova fase, o novo abraço. O novo afago, o novo novo, a nova história. É lá que ela mora, no vazio, entre todas as coisas, entre tudo o que somos e tudo o que fazemos. Ou não.
A nova fase, o novo abraço. O novo afago, o novo novo, a nova história. É lá que ela mora, no vazio, entre todas as coisas, entre tudo o que somos e tudo o que fazemos. Ou não.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Cardíaco
Não é o dia que está triste por estar cinzento, porque estar cinzento é das naturezas dele. E ele nunca se entristece por ser ele mesmo, não importa como seja. Quem se importa são os outros, os que pensam... Que pensam. Eles ficam tristes, porque acham que é complô da escuridão se encontrar com a luz pra formar o cinza. Ou vice-versa. Vice-versa?
Não é o vento que está frio, porque ser frio é das naturezas dele. E ele, como o dia, passa feliz. Por que? Ainda não aprendemos a ler o vice-versa que nos versa tanta ilusão. As naturezas só falam ao coração. Mas pobre do coração, que resolveu nos emprestar os ouvidos... Que tal dar-lhe de volta os ouvidos para que voltemos a ouvir sua razão?
Não é o vento que está frio, porque ser frio é das naturezas dele. E ele, como o dia, passa feliz. Por que? Ainda não aprendemos a ler o vice-versa que nos versa tanta ilusão. As naturezas só falam ao coração. Mas pobre do coração, que resolveu nos emprestar os ouvidos... Que tal dar-lhe de volta os ouvidos para que voltemos a ouvir sua razão?
Clareza
Ninguém é o que gostaria de ser até que consiga tornar-se o que sonhava ser quando era criança.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Brincadeira
O que é, o que é? Que faz o que bem entende com quem não entende nada dessa coisa de viver em harmonia com tudo o que existe? É o egoísmo acobertado que recobre suas vítimas com fantasias disfarçadas de brincadeiras infantis.
O que é, o que é? Que leva para guerras infundadas quem só quer sossego depois de horas e mais horas de trabalho? É o medo exacerbado do fracasso fabricado por mentes tão dementes que desaprenderam o sentido único da verdade.
O que é, o que é? Que faz como se fosse aquilo que se esquece de tudo o que acontece nesses dias que correm tão depressa? É a pressa pela fuga almejada das rotinas que engolem as horas necessárias para que tudo seja feito.
O que é, o que é? Que finge que engana a quem engana a si mesmo, fazendo jogo duro contra a razão e o bom senso? É a falta de bom senso que persegue o tempo inteiro todos aqueles que desejam, simplesmente, fazer a coisa certa.
O que é, o que é? Que leva para guerras infundadas quem só quer sossego depois de horas e mais horas de trabalho? É o medo exacerbado do fracasso fabricado por mentes tão dementes que desaprenderam o sentido único da verdade.
O que é, o que é? Que faz como se fosse aquilo que se esquece de tudo o que acontece nesses dias que correm tão depressa? É a pressa pela fuga almejada das rotinas que engolem as horas necessárias para que tudo seja feito.
O que é, o que é? Que finge que engana a quem engana a si mesmo, fazendo jogo duro contra a razão e o bom senso? É a falta de bom senso que persegue o tempo inteiro todos aqueles que desejam, simplesmente, fazer a coisa certa.
Abstrato insensato
Nos ângulos retos, do chão ao teto, a poeira voa o voo do silêncio. Voa e acha refúgio no pouso seguro, deixando opaco o móvel que não se move há anos. Não se move, imutável dentre todas as mudanças que movem esse mundo tão jovem, tão cheio de coisas que nos enchem, preenchendo os vazios que colecionamos durante vidas tão curtas, diante de palavras absurdas que criamos para todos, para tudo: para o cego, para o surdo.
Nas curvas dos corpos que tanto admiramos, estejam eles suspensos no vácuo ou andando nas ruas, perdemos os rumos que pensamos dar ao que achamos puro. Na pureza da inocência que afogamos em nossos sussurros, na essência do medo que guardamos do escuro, repousa a matéria que nos mantém tão seguros, tão humanos, tão sozinhos. A matéria que usamos para construir nossas paredes e muros, que nos isolam em nossos próprios mundos.
Nas retas e curvas, ângulos e parábolas, apogeus e perigeus, nos pontos que não se ligam, ou que ligam o nada ao lugar algum. Em algum lugar que já não conseguimos mais lembrar, em algum canto dos lugares que tanto fazem falta, se esconde o que há muito só assusta: a resposta da pergunta, a solução do problema, a teoria que conspira contra o senso do que é bom, a verdadeira arquitetura do sistema. O sistema que criamos, e que precisamos destruir.
Nas curvas dos corpos que tanto admiramos, estejam eles suspensos no vácuo ou andando nas ruas, perdemos os rumos que pensamos dar ao que achamos puro. Na pureza da inocência que afogamos em nossos sussurros, na essência do medo que guardamos do escuro, repousa a matéria que nos mantém tão seguros, tão humanos, tão sozinhos. A matéria que usamos para construir nossas paredes e muros, que nos isolam em nossos próprios mundos.
Nas retas e curvas, ângulos e parábolas, apogeus e perigeus, nos pontos que não se ligam, ou que ligam o nada ao lugar algum. Em algum lugar que já não conseguimos mais lembrar, em algum canto dos lugares que tanto fazem falta, se esconde o que há muito só assusta: a resposta da pergunta, a solução do problema, a teoria que conspira contra o senso do que é bom, a verdadeira arquitetura do sistema. O sistema que criamos, e que precisamos destruir.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Voltas
De volta em volta, de rodeio em rodeio, rodeiam as palavras que não querem calar. Rodam, rodam, mas não pousam, não se fazem ouvir. Só ficam girando pelo ar preso na garganta, um espaço muito restrito, mas onde cabem muitas coisas. Tantas coisas que é melhor nem falar.
Diário
Querido diário, não sei onde foi parar a lembrança que eu tinha pra hoje, porque hoje eu resolvi não me lembrar de nada. Porque toda vez em que eu tentava me lembrar de algo, lembrava de algo que não queria lembrar.
Querido diário, talvez seja melhor não falar mais com você. Porque você sabe demais a respeito de quem não lhe diz tanto respeito, porque você não respeita muito os medos e incertezas que preenchem suas linhas tão retas.
Querido diário, acho que vou lhe matar. Porque você, no final das contas, guarda todas as contas que eu não queria contar. Vou rasgar suas folhas silenciosas, cheias de segredos que se mantém perversamente secretos.
Querido diário, talvez seja melhor não falar mais com você. Porque você sabe demais a respeito de quem não lhe diz tanto respeito, porque você não respeita muito os medos e incertezas que preenchem suas linhas tão retas.
Querido diário, acho que vou lhe matar. Porque você, no final das contas, guarda todas as contas que eu não queria contar. Vou rasgar suas folhas silenciosas, cheias de segredos que se mantém perversamente secretos.
Relógio de corda
A idade se deita sobre as costas dos desavisados, espreguiçando-se entre os anos e vidas que envelheceram sem querer, sem amar, sem saber que dentro de si é que residiam as vidas que tentaram viver fora, e jogaram fora.
As barbas se alongam, os cabelos se acinzentam, as rugas já não brincam mais de esconde-esconde. O que se esconde é a certeza disfarçada de que tudo não passa de um passado que ficou no rascunho, rabiscado, amarelado.
As barbas se alongam, os cabelos se acinzentam, as rugas já não brincam mais de esconde-esconde. O que se esconde é a certeza disfarçada de que tudo não passa de um passado que ficou no rascunho, rabiscado, amarelado.
Chamas
Ardem os dias e noites em que velamos os mortos que, enquanto vivos, tentaram viver. Como nós, que tentamos escolher, entre tantas escolhas, as que nos permitem volver. Voltar ao começo de tudo, e depois de tudo, ser capaz de vencer.
Ardem nos peitos as ilusões que inventamos, porque a realidade nos é difícil encarar. Mas as invenções que criamos sofrem das falhas que sofremos, e não sobrevivem por muito tempo. Assim como nós, que vivemos tão pouco o nosso pouco tempo.
Ardem nos peitos as ilusões que inventamos, porque a realidade nos é difícil encarar. Mas as invenções que criamos sofrem das falhas que sofremos, e não sobrevivem por muito tempo. Assim como nós, que vivemos tão pouco o nosso pouco tempo.
A guia
Perdi o caminho, o tempo me engoliu. Me enganou, me deixei enganar. Dei ouvidos aos mudos, calei o que podia falar. Perdi o caminho, e o caminho mentiu. Me disse que ia, mas me fez esperar. Me fez de idiota de tanto voltar. Voltou ao começo que eu tanto temia. Fiz de mim mesmo andarilho sem guia.
Estrelas
Brilham fugazes em luzes e gases, anos luz de onde estamos, enquanto estamos perdidos. Alguns dizem que já morreram, e na morte encontraram forma de viver, enquanto vamos vivendo, lutando para encontrar uma forma de morrer.
Caminhadas sem passos
Todos os anos, os mesmos meses, os mesmos dias, as mesmas horas. As mesmas frases, da boca pra fora. Os mesmos gestos, como os de agora. Os mesmos vícios, tudo igual. Todos iguais, cada qual é o tal. Todos os anos, um “olá” e um “tchau”.
Todas as ruas levam ao centro, todo afluente flui ao vento. Todo veneno tem seu antídoto, todo humano mata seu ídolo. Toda paixão se esclarece, todo amor um dia esmorece. Toda flor tem sua cor, todo bem querer carrega sua dor.
Tudo o que temos, pensamos que temos. Mas não temos nada além do que sentimos, ou fazemos. É o preço dos dias que temos aqui: ser o que somos, parar ou seguir. Pra frente ou pra trás entre os meios e fins.
Todas as ruas levam ao centro, todo afluente flui ao vento. Todo veneno tem seu antídoto, todo humano mata seu ídolo. Toda paixão se esclarece, todo amor um dia esmorece. Toda flor tem sua cor, todo bem querer carrega sua dor.
Tudo o que temos, pensamos que temos. Mas não temos nada além do que sentimos, ou fazemos. É o preço dos dias que temos aqui: ser o que somos, parar ou seguir. Pra frente ou pra trás entre os meios e fins.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Os vãos
Tenta-se forçar as peças para que se encaixem, mas esse é trabalho vão, como é vão querer ir contra o que precisa acontecer.
A última mentira
Sempre que o fingimento se encontra com a verdade, acontece o intervalo. O silêncio entre as palavras, o meio do caminho entre o começo e o fim. A meia volta, a volta inteira. O verdadeiro valor do que é verdadeiro. A verdade sobre os dois lados, os frágeis laços que se desfazem.
Sempre que uma verdade é omitida, outra verdade se revela. Sutil e silenciosa, ela encontra seu caminho entre os dentes de quem mente. Não importa se é por necessidade, ou se é por conveniência. O irreal se desfaz de repente, embora possa ter sido planejado com muito do cuidado.
Sempre que uma verdade é omitida, outra verdade se revela. Sutil e silenciosa, ela encontra seu caminho entre os dentes de quem mente. Não importa se é por necessidade, ou se é por conveniência. O irreal se desfaz de repente, embora possa ter sido planejado com muito do cuidado.
Ponta de estoque
O preço das coisas que queremos vai além das aparências que mantemos, em nossos jogos desatentos, em nossa inveja pelo alheio. A vida passa na incansável perseguição que alimenta os anseios por mais coisas, coisas maiores, degraus mais altos, atalhos e saltos. E, enquanto isso, a simplicidade cai no esquecimento, no buraco negro que engole tudo, de dentro para fora.
Ânsia
Falta de concentração, imagem desfocada. Falta de noção, insatisfação disfarçada. Disfarces disponíveis para o tudo ou nada. E quase nada atinge grande profundidade. Problemas com o espelho, problemas com a idade. Há muita coisa que é pouca pra saciar nossa grande ansiedade.
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