sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Abstrato insensato

Nos ângulos retos, do chão ao teto, a poeira voa o voo do silêncio. Voa e acha refúgio no pouso seguro, deixando opaco o móvel que não se move há anos. Não se move, imutável dentre todas as mudanças que movem esse mundo tão jovem, tão cheio de coisas que nos enchem, preenchendo os vazios que colecionamos durante vidas tão curtas, diante de palavras absurdas que criamos para todos, para tudo: para o cego, para o surdo.

Nas curvas dos corpos que tanto admiramos, estejam eles suspensos no vácuo ou andando nas ruas, perdemos os rumos que pensamos dar ao que achamos puro. Na pureza da inocência que afogamos em nossos sussurros, na essência do medo que guardamos do escuro, repousa a matéria que nos mantém tão seguros, tão humanos, tão sozinhos. A matéria que usamos para construir nossas paredes e muros, que nos isolam em nossos próprios mundos.

Nas retas e curvas, ângulos e parábolas, apogeus e perigeus, nos pontos que não se ligam, ou que ligam o nada ao lugar algum. Em algum lugar que já não conseguimos mais lembrar, em algum canto dos lugares que tanto fazem falta, se esconde o que há muito só assusta: a resposta da pergunta, a solução do problema, a teoria que conspira contra o senso do que é bom, a verdadeira arquitetura do sistema. O sistema que criamos, e que precisamos destruir.