Todo plano é feito para funcionar ao contrário, na contramão dos nossos desejos. Motivo, pode ser qualquer um.
Na receita do meu bolo então vou começar a adicionar uma generosa dose de mero e displiscente acaso.
domingo, 27 de dezembro de 2009
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Nem tudo, nem todos
Nem todo ano é ruim, nem todo choro é tristeza. Nem todo sorriso é irônico, nem todo disfarce é engano. Nem toda ausência é voluntária, nem toda alegria é gratuita. Nem todo grito é um alerta, nem toda palavra é cruel.
Nem tudo o que dizemos é verdade, nem todo mistério tem solução. Nem tudo o que sonhamos é sonho, nem todo sonho é mera ilusão. Nem toda impossibilidade é eterna, nem toda a eternidade é impossível.
Nem tudo o que reluz é nosso, nem tudo o que é nosso continuará reluzindo.
Nada temos, mas nada temo.
Nem toda saudade é tormento.
Nem tudo o que dizemos é verdade, nem todo mistério tem solução. Nem tudo o que sonhamos é sonho, nem todo sonho é mera ilusão. Nem toda impossibilidade é eterna, nem toda a eternidade é impossível.
Nem tudo o que reluz é nosso, nem tudo o que é nosso continuará reluzindo.
Nada temos, mas nada temo.
Nem toda saudade é tormento.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Desconcerto
Se eu fosse mágico, teria mudado muitas de suas decisões a meu respeito. Teria mudado sua visão com relação ao meu orgulho e minha soberba. Teria te mostrado o outro lado da minha moeda, o lado certo. Se eu fosse mágico, teria dado vida às flores que nunca te entreguei.
Se eu fosse um pintor, teria te ensinado como misturar minhas cores, luzes e sombras. Teria te explicado meus rascunhos, provas e ensaios. Tentaria te fazer enxergar arte nos meus rabiscos infantis. Se eu fosse um pintor, eu poderia ter me desenhado melhor.
Se eu fosse um cientista, poderia ter inventado meu próprio manual, para que você pudesse ler e então não se assustar com meus intrincados mecanismos. Se eu fosse um cientista, eu poderia ter detalhado tudo aquilo que eu sentia enquanto você dormia.
Se eu fosse um intelectual, teria te convencido de que eu não estava totalmente errado em tudo o que eu fazia. Poderia ter acrescentado um pouco de naturalidade à paixão desenfreada que eu vivia. Certamente isso teria feito uma grande diferença.
Se eu fosse um camponês, tudo teria sido mais fácil, porque eu saberia onde arar, quando plantar, como regar, como cuidar de algo tão frágil como só um amor tão intenso pode ser. Se eu fosse um camponês, teria feito desse amor o meu sustento, e não meu desalento.
E, se eu fosse tudo isso, teria sido capaz de fazer tudo certo e muito mais. Teria sido capaz de entender e não julgar, e ser julgado sem me importar. Teria tido paciência, humildade e resignação para aceitar tudo o que um dia eu achei que merecia.
Se eu fosse um pintor, teria te ensinado como misturar minhas cores, luzes e sombras. Teria te explicado meus rascunhos, provas e ensaios. Tentaria te fazer enxergar arte nos meus rabiscos infantis. Se eu fosse um pintor, eu poderia ter me desenhado melhor.
Se eu fosse um cientista, poderia ter inventado meu próprio manual, para que você pudesse ler e então não se assustar com meus intrincados mecanismos. Se eu fosse um cientista, eu poderia ter detalhado tudo aquilo que eu sentia enquanto você dormia.
Se eu fosse um intelectual, teria te convencido de que eu não estava totalmente errado em tudo o que eu fazia. Poderia ter acrescentado um pouco de naturalidade à paixão desenfreada que eu vivia. Certamente isso teria feito uma grande diferença.
Se eu fosse um camponês, tudo teria sido mais fácil, porque eu saberia onde arar, quando plantar, como regar, como cuidar de algo tão frágil como só um amor tão intenso pode ser. Se eu fosse um camponês, teria feito desse amor o meu sustento, e não meu desalento.
E, se eu fosse tudo isso, teria sido capaz de fazer tudo certo e muito mais. Teria sido capaz de entender e não julgar, e ser julgado sem me importar. Teria tido paciência, humildade e resignação para aceitar tudo o que um dia eu achei que merecia.
Ensaios disfarçados
Há perigo nas ruas da cidade, nas cidades do país, nos países do mundo. Há perigo nas esquinas, nas casas, nos bares. Há perigo nos olhares, nas disputas, nas discussões. Há perigo, muito perigo em tudo o que vemos, e muito mais no que nos mostram.
Há mensagens em tudo o que acontece. Há avisos nas buzinas, nas placas, nos sinais. Há mensagens nos gestos, nos trejeitos, nos vendavais. Há mensagens nos filmes, nas cenas, nos terminais. Há mensagens tão claras que não é possível ignorá-las.
Há palavras que não se falam, não importa o que aconteça. Há palavras que se calam frente à ignorância que nos cerca. Há palavras escritas pela metade, entendidas pela metade, e metade delas fica realmente esquecida flutuando no ar que respiramos.
Há indícios de intolerância quando não ouvimos o que desejamos. Há indícios de problemas quando a solução nos parece distante. Há indícios de traição quando não confiamos em nós mesmos. Há indícios de homicídio nas gotas de sangue espalhadas pelo chão.
Há sentimentos que escondemos quando nos sentimos pressionados. Há sentimentos que nos traem quando desejamos mais do que pensamos. Há sentimentos que enobrecem, empobrecem, enaltecem, fazem de nós simples marionetes.
Há um começo e um fim, e um meio por onde vagamos, entre escolhas e incertezas das quais muito duvidamos. Há pouca paciência em nossa vida tão moderna, tão movimentada e consumista. Pouco pensamos em nós mesmos, importantes mesmo são as coisas.
O início e o fim separados por um fio, um estalo e acabou. No cano de uma arma, na lâmina sobre a qual nós caminhamos. Tudo acaba e silencia, e o que era nosso não existe mais. Não faz sentido dar valor a bobagens, bugigangas. É preciso estar atento ao que está por dentro.
Há mensagens em tudo o que acontece. Há avisos nas buzinas, nas placas, nos sinais. Há mensagens nos gestos, nos trejeitos, nos vendavais. Há mensagens nos filmes, nas cenas, nos terminais. Há mensagens tão claras que não é possível ignorá-las.
Há palavras que não se falam, não importa o que aconteça. Há palavras que se calam frente à ignorância que nos cerca. Há palavras escritas pela metade, entendidas pela metade, e metade delas fica realmente esquecida flutuando no ar que respiramos.
Há indícios de intolerância quando não ouvimos o que desejamos. Há indícios de problemas quando a solução nos parece distante. Há indícios de traição quando não confiamos em nós mesmos. Há indícios de homicídio nas gotas de sangue espalhadas pelo chão.
Há sentimentos que escondemos quando nos sentimos pressionados. Há sentimentos que nos traem quando desejamos mais do que pensamos. Há sentimentos que enobrecem, empobrecem, enaltecem, fazem de nós simples marionetes.
Há um começo e um fim, e um meio por onde vagamos, entre escolhas e incertezas das quais muito duvidamos. Há pouca paciência em nossa vida tão moderna, tão movimentada e consumista. Pouco pensamos em nós mesmos, importantes mesmo são as coisas.
O início e o fim separados por um fio, um estalo e acabou. No cano de uma arma, na lâmina sobre a qual nós caminhamos. Tudo acaba e silencia, e o que era nosso não existe mais. Não faz sentido dar valor a bobagens, bugigangas. É preciso estar atento ao que está por dentro.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Fundo de armário
O passado é página virada, caminho sem volta. O passado é tudo aquilo que se foi, que não retorna mais. É dia e noite que se perderam nos relógios e calendários. Nos livros de história ou na lembrança comum. O passado é aquilo que não vai mais acontecer da mesma maneira.
O passado é foto amarelada, guardada em segredo, segredo sem confidente. É o que queremos a todo custo esquecer, enterrar, colocar na caixa, guardar no fundo do armário e só mexer se tiver que mudar de casa. Tem tanto de tudo parado no passado que nos faz até engasgar.
O passado é pouco diante do que queríamos para aquele futuro que já se foi. E tudo o que gostaríamos de ter feito e vivido acabou ficando para depois, um depois que não tem mais possibilidade de acontecer por causa das decisões que tomamos. O tempo é composto por decisões.
O passado é foto amarelada, guardada em segredo, segredo sem confidente. É o que queremos a todo custo esquecer, enterrar, colocar na caixa, guardar no fundo do armário e só mexer se tiver que mudar de casa. Tem tanto de tudo parado no passado que nos faz até engasgar.
O passado é pouco diante do que queríamos para aquele futuro que já se foi. E tudo o que gostaríamos de ter feito e vivido acabou ficando para depois, um depois que não tem mais possibilidade de acontecer por causa das decisões que tomamos. O tempo é composto por decisões.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Relâmpago na escuridão
Eu vi o tempo correr montado num cavalo lindo e louco, rápido e selvagem, esmagando a relva das lembranças de eras de vidas que trilharam aqueles caminhos. Indo e vindo, dançando ao sabor dos ventos que cruzam as superfícies.
A certa altura eu já não conseguia perceber se não era então o cavalo a montar o tempo, as imagens tornaram-se borradas, enquanto a velocidade de tudo aumentava, causando vertigens e confusões.
Havia momentos em que os topos das montanhas se desgastavam diante dos ventos e chuvas de um mundo muito jovem e agressivo. Não havia lugar para poesia naquela progressão, tudo era início, estrondo e explosão.
E cavalo e cavaleiro corriam sem parar, cada vez mais rápidos rompendo os dias como se fossem simples minutos diante da eternidade impassível. Debruçado no peitoril da janela o Maior acompanhava a pequenez da aparente desordem.
Assim se sucederam as eras, uma após a outra, muito suaves se testemunhadas à distância, mas bruscas e cruéis quando vividas por dentro. Em muitos disfarces era visto o cavaleiro. Fez sofrer e sorrir aqueles que se viram em seu caminho.
Agora o cavalo parece se cansar após incontáveis anos de incansáveis cavalgadas, clamando por um novo ciclo de renovação. O cavaleiro conclui suas somas com maior voracidade, tentando poupar sua montaria. Tudo está indo mais depressa.
A certa altura eu já não conseguia perceber se não era então o cavalo a montar o tempo, as imagens tornaram-se borradas, enquanto a velocidade de tudo aumentava, causando vertigens e confusões.
Havia momentos em que os topos das montanhas se desgastavam diante dos ventos e chuvas de um mundo muito jovem e agressivo. Não havia lugar para poesia naquela progressão, tudo era início, estrondo e explosão.
E cavalo e cavaleiro corriam sem parar, cada vez mais rápidos rompendo os dias como se fossem simples minutos diante da eternidade impassível. Debruçado no peitoril da janela o Maior acompanhava a pequenez da aparente desordem.
Assim se sucederam as eras, uma após a outra, muito suaves se testemunhadas à distância, mas bruscas e cruéis quando vividas por dentro. Em muitos disfarces era visto o cavaleiro. Fez sofrer e sorrir aqueles que se viram em seu caminho.
Agora o cavalo parece se cansar após incontáveis anos de incansáveis cavalgadas, clamando por um novo ciclo de renovação. O cavaleiro conclui suas somas com maior voracidade, tentando poupar sua montaria. Tudo está indo mais depressa.
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