segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Imaginário real

Os limites colocados adiante, são apenas colocados. Eles não estão lá. Mas estão. Estão para testar até onde vai, qual o limite. Testar de onde vem, se vem de lá, de dentro, de fundo. Testar que tipo é, se é do tipo que faz tipo, ou se é puro. Puro.

Os limites vistos adiante, são apenas vistos. Não são sentidos. Não podem ser sentidos se o sentido diz que sentido deve ser seguido. E não podem ser maiores, se a vontade é maior. E nada é maior do que a vontade que flui do lado esquerdo.

Os limites ditos adiante, são apenas ditos. Já ficaram para trás assim que foram ditos, porque já não estão mais dentro, foram embora nas palavras. Foram embora no sopro, no cheiro, no abraço, no beijo. No respeitoso silêncio do vento.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O único perigo é o primeiro passo

Parece pouco o que há na mente, no coração, no bolso. Parece pouco, comparado a tanto de tudo que há por aí. Pode até ser que a certeza seja menor que a dúvida, porque quase sempre é, e quase sempre assim permanece. Mudar isso é um trabalho imenso, que exige força além da humana, já que a humanidade não está mesmo nem aí para isso. É caso isolado, não está na massa. Está por fora de tudo.

Deve ser mesmo muito pouco, de tão pouco que se mostra. E, quando se mostra, assusta muito. Causa pânico. Causa um monte de coisas, com um monte de nomes. Causa dor física e um vazio impalpável. Indigerível. Revela-se fraqueza diante da força de tantas coisas aos avessos que andam soltas por aí. Quase causa pena. Quase causa porque a piedade está em falta, jazendo vencida nos estoques.

Até onde isso vai, é impossível dizer. Assim como é impossível dizer um monte de coisas que ficam engasgadas, desgastando a garganta, por onde só desce veneno. O veneno dos dias e noites que passam em branco, um branco sujo e avesso ao branco da paz. O suave veneno vertido contido nas diversões invertidas que inventaram um dia, para que os dias passassem em passo veloz.

Até quando isso vai, nem o relógio responde. Envergonhado, ele se esconde atrás de seus ponteiros espasmódicos, que pulam os números em compasso metódico, enganando as engrenagens que já nem sabem o motivo que as fez tão velozes. Até quando isso vai já nem interessa, porque a dona do mundo agora é a pressa, que passa depressa e deprime àqueles que dela dependem, de forma perversa.

Mas tudo para algum dia, porque tudo morre, se inverte e se transforma em algo novo. Vira pó, vira cinza, carbono, estrela. Partícula atômica, isótopo sem tempo. Voa no vento, cai ao relento. Aquece, queima, reage. Muda de cor, floresce, revive. Tudo morre, muda e nem se incomoda se existe essa pressa, se o vestido é da moda, se tudo é dinheiro. Isso tudo, quando tudo morre, é apenas conversa.

Um monólogo. Monumental.

Cinismos propositais

Morreu a musa, bateu asas e voou. E gritou, desgraçada, um grito de garça, irritante e solitário. Morreu sozinha, a filha da puta. Mas foi bem merecido, de tanto desdenhar o esforço de quem só lhe pediu algumas linhas. Que queime então no inferno das novelinhas. Alguns diriam “oh, pobre coitada! Morreu tão jovem...” Ora, que se foda, desalmada. Foi-se jovem, mas foi-se tarde. Bem tarde.

Outros, agora, dizem “as linhas ficaram tortas e as rimas, despedaçadas.” Pois então não leiam, não percam tempo. Não gastem os olhos se não entendem nada. Porque mesmo tortas, as linhas falam. E, se não rimam, também não calam. Morreu a musa, e foi bem velada. E, apesar de tudo, morreu ainda amada. E ela sabe disso, todo mundo sabe. Está bem escrito em sua linda lápide.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Degelo

De onde vem, ninguém sabe, mas vem. Vem e toma conta, preenche os espaços, corre no sangue. Passa por todos os caminhos que existem por dentro, melhora o humor, aumenta a paciência. Transforma qualquer rotina em surpresa. E se reflete por fora, de formas diversas. Relaxa as feições, altera o andar. Faz roupas guardadas voltarem ao corpo. Faz do passado apenas passado, tornando o hoje o primeiro dia do futuro.

Quando vem, ninguém sabe. Mas vem, mesmo sem hora marcada. Uma vez notado, é tarde demais. Como se estivesse lá o tempo todo, desde sempre, tão perfeito é o encaixe. Lembra os difíceis quebra-cabeças da infância, com suas infinitas trinta e seis peças, que tantos sorrisos desperta, quando tudo finalmente se encaixa. A hora em que chega é sempre a hora certa, porque nunca se adianta, e nunca se atrasa.

O que é, todo mundo sabe. E mesmo quem não sabe, descobre rapidinho. Intui de alguma forma medrosa que é isso mesmo, isso que tanto se esperava. E não adianta procurar empecilhos, problemas, defeitos. Porque, no final das contas, é simplesmente perfeito. É tudo o que disso se espera, porque toda espera é sempre longa demais, a ponto de cansar e fazer pensar que isso não existiria mais. Mas existe, e é o que é.

Vem de onde nunca saiu. Chega na hora marcada. E é o que se imaginava exilado. É o amor.

Ou é isso, ou é aquilo

Fala-se sobre o amor, fala-se muito, fala-se demais. Conta-se histórias, contos, lendas. Teorias. E pouca prática. E dá-se ao amor armas, como se fosse possível levá-lo às batalhas para ferir aos iguais, deitar ao chão os inimigos, trair os amigos. Desafiar, desfazer, desmanchar. Como se fosse mesmo instrumento de terror, ou moeda de suborno.

Pensa-se o amor como se fosse possível submetê-lo a desejos tolos, destituídos de profundidade. Ou de importância. E espalha-se o rumor de que o amor pode destruir lares, famílias, amizades, outras coisas. Mas que destruição pode trazer o amor às coisas que diante dele sucumbem por falta de alicerces? Que culpa tem ele se é mais forte que todo o resto?

Vive-se a paixão como se fosse amor, mas amor ela não é. Pode ser que seja o começo. Mas meio ou fim, não é capaz de ser, porque não se sustenta sozinha: morre rápido se não gera seu próprio sustento. E seu sustento deve sustentar não apenas a si mesma, mas também aos corações que escolhe como morada. Senão, morre farta de si mesma.

Aos que se enganam

Aos que se enganam, a notícia é de derrota, crise, problema. Mas não há problema, crise ou derrota capaz de enganar ao bom coração. O bom coração permanece forte mesmo quando o dão por vencido, mas este vencido não está até que soprem o final da partida. E a partida, na verdade, ainda nem começou...

Ponto de força

São tantos os sinais, tantos os dedos apontados, tantas as palavras cuspidas, tantas as previsões estranhas. São tantos dados, tantas informações. Em meio a tantas coisas é tão fácil perder a rédea, perder o rumo. E perder o pouco que falta para encontrar o prumo.

Tudo o que dizem, tudo o que fazem, tudo o que mostram é tudo o que são, e nem tudo é sempre coisa boa, boa notícia ou bom coração. E em meio a tudo isso é muito difícil manter-se atento, desperto ou coeso. Ou simplesmente imune ao peso de todo esse peso.

Mas nem sempre tudo, ou todos, são suficientes para envergar as costas ao chão. A força das costas é força além de qualquer discussão. Quando parece que cede, mais forte se faz. Ergue-se além do cansaço, porque nenhum peso é pesado demais. Não é e nunca será.

sábado, 12 de novembro de 2011

Três é demais

O mestre vem e ensina, deslizando seu giz suavemente sobre a lousa, em palavras, desenhos e cálculos, tão exato e tão humano. E tão biológico. Cheio de sabedoria sobre as certezas das quais duvidamos, quando escolhemos nossos atalhos tolos, nossos caprichos vazios, nossas escolhas infantis.

O mestre fala e explica, com palavras poucas, a verdadeira natureza das coisas: as falsas verdades que inventamos nos sonhos em que rolamos soltos, pensando que a coisa certa está sendo feita, quando na verdade, a verdade é outra. É redondamente o contrário do que pensamos que sabemos.

O mestre demonstra e corrige, com exemplos levíssimos, a conduta tão sublimada de enganos que somente um sol de deserto inclemente é capaz de produzir. Os desertos que temos por dentro, enganam tanto o guia quanto os viajantes, matando todos de sede, mesmo com o oásis adiante.

O mestre aconselha e encaminha, para que os erros não aconteçam de novo. Mas sabe que o erro acontece, e é quase inevitável, porque os alunos esquecem de tudo quando é chegado o momento da prova. Safam-se apenas os que erram de menos. Esses são os que não só estudaram, mas aprenderam a lição.

O mestre da escola é o Tempo, e sua matéria é a História.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Nossas metades

Ela passeava distraída quando se viu mais jovem, atravessando a rua em passos saltitantes, de mãos dadas com um namoradinho. Cabelo preso na nuca, olhava pra tudo, pra todos. Divertia-se em sorrisos e olhares, o jeito jovem de observar essa vida. Seus passos escreviam histórias que, mal sabia, seriam vistas e lidas por transeuntes estranhos, que ela nem sonhava que um dia conheceria.

Então lembrou-se do jovem sorveteiro, que vinte anos depois ainda vendia ali seus sorvetes. Lembrou-se do dono da venda, onde agora ela comprava as coisas que sua mãe costumava comprar. E percebeu a padaria da esquina, que mudara de nome e de dono, mas que ainda era a padaria da esquina. Lembrou e reviu muitas coisas no turbilhão provocado pela visão dela mesma mais jovem.

Agora, ela sabe que precisa trocar a saia que comprou, mas que veio com defeito. Entrou na loja, no seu velho bairro, seu bairro de sempre, e fez o que tinha que fazer, pensando no que compraria no supermercado. Lembrou que era sexta-feira, dia de lanche no jantar. Fez tudo o que tinha que fazer e foi caminhando tranquila de volta para casa. Na esquina, viu-se novamente caminhando mais nova, e chamou alto sua filha: vem, vamos pra casa!

Sem eira, nem beira

A falta de luz deixa nu o escuro, que brinca de rei, construindo desmandos que bagunçam os cômodos que foram deixados vazios por aqueles que foram, e que nunca voltaram. Foram de vez, vezes sem conta, sem dar a mínima importância para quanto vazio deixaram pra trás.

Foram todos embora, vestidos de santos, fingindo inocência diante de tudo o que esse nada agora traduz. Não deixaram endereço, palavra ou conforto: somente o silêncio, que empoeira todos os cantos dos lugares vazios, onde nascem os medos pelos dias que fogem.

Não sentem remorso, mas mesmo se sentissem, isso pouca diferença faria. Porque o que fica, só fica pra um, não tem a menor importância para outros, mesmo porque dos outros, não resta nenhum. E mesmo se restasse, seria resto, e isso é pouco diante de tudo.

Reticências

Sentado no escuro, ele pensa no mundo, pensa em tudo que vê à sua volta. E volta a tempos cada vez mais remotos, tentando encontrar as almas que já abandonaram seus corpos. Mas, pobre rapaz, não chega onde quer, onde quer que isso seja: fica preso num tempo em que só se enxerga tristeza, com se fosse um abismo de imenso vazio. De lá não consegue sair, preso que fica por mãos que o puxam de volta, para viver de novo essas coisas estranhas das quais sempre tenta fugir. Pobre coitado, não sabe que a fuga nada mais é que atalho, percorrido apenas para dar de frente com o medo que mantinha guardado...

Sentado no escuro, ele se sente sozinho, como se não existisse ninguém capaz de estender-lhe a mão, para puxá-lo de volta, para longe desse sonho daninho do qual é difícil acordar. Dentro do peito ele sabe que só precisa de amor. Mas que amor existe nesses dias estranhos, em que as pessoas reparam mais no que temos, do que no que somos? Pobre menino, que pensa na vida como se essa fosse ainda da maneira como ele a percebia, antes desses dias, antes de tudo. Antes que tudo se tornasse esse nada no qual ele nada sem sequer avistar uma margem. Pobre diabo: sabe que pode, mas não consegue desistir...

Barro soprado

O que faz do humano um ser humano é sua tendência em desejar o que lhe é improvável conseguir. E, quando consegue o que deseja, pouco se importa com as dúvidas que suscitou, com as mágoas que gerou, nem com os rompimentos que forçou. Não pensa em nada, a não ser em si mesmo e nos fins que justificaram os meios sujos que utilizou.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Números

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Só posso ser muito grato!

A incidência da luz

O reflexo do espelho é o fundo do vidro que faz refletir, fazendo uso da luz que sobre si incide, vindo de qualquer lugar. A ruga é o disfarce da idade, que se cansa dos jogos inúteis que a luz joga com o fundo dos vidros, assustando os olhares incautos que, com pouquíssima luz, se desesperam ao não enxergarem mais qualquer luz no caminho de volta. O caminho de volta, que é proibido, se esconde dos olhares perdidos no transe sem luz dos anos passados no escuro, o mesmo escuro que agora descansa, sem culpa, no fundo do vidro que brinca de espelho. O brinquedo esquecido dentro do armário, o armário deixado no sótão da casa, a casa vazia, deixada de lado. O lado escolhido sofrendo as ações do tempo passado. O passado construído de futuros desperdiçados. Fim.

Pânico

A importância que damos ao que temos, ou proporcionamos, diminui nos tombos que vamos levando, nos dias que vão se encurtando, nas palavras que seguimos desacreditando.

A importância que achamos que temos não é a mesma que realmente temos para os outros, não importa o que seja dito, ou mostrado. O que importa, no final, é que nada disso importa.

Ponto morto

O esforço é grande para manter afastadas as paredes que se fecham, e o teto que desce, assim como o chão que sobe, a janela que sela, a porta que bate. Mesmo que nada se mova, tudo comprime o ar, que comprime o peito, que arfa com dificuldade, procurando o grito alto que faça soar o alarme, que faça rolar a lágrima, que afrouxe os nós.

O peso é grande, e curva as costas, aperta as costelas, e dobra as pernas. Cega os olhos, movendo as saídas de um lado para o outro, para que não sejam vistas, ou alcançadas. O cansaço da imobilidade apunhala a alma com mais força do que o desgaste da ação, alimentando os vícios do desânimo, desanimando as horas, que começam a se arrastar, sem graça.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Puft!

O fim, que tanto justifica o meio, no fim não faz jus ao esforço empreendido, porque este foi pouco, quase nada. E, no fim, o meio e o fim são apenas o quase nada: tempo perdido, engano impossível, paciência esgotada. E o fio da meada permanece escondido entre os restos de tudo, pouco que seja, seja lá o que for. E nem saudade desperta...

E segue a vida, segue o seco, segue a rotina seu caminho imutável. Tão cheio de tantas coisas iguais, que o saco mais que se enche: estoura pelos motivos banais que somente as rotinas produzem. E ninguém, no segundo de vácuo, logo após o estouro, é capaz de ouvir a mensagem que o coração silencia: o desdém é o algoz de qualquer paciência...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Forçado

A falta que faz a ausência de espírito é do tamanho das incertezas que se encontram à frente. A coragem que jaz no peito apertado pelos dias ingratos é o que separa o sorriso da lágrima: a coragem que falta, a falha que revolta, as voltas que faltam para dar as costas ao que tanto incomoda.

De onde vêm

Vem do passado o manual que desvenda o futuro que é feito do presente que vivemos, seja este da forma que for. Vêm das histórias escritas as linhas vazias que esperam a tinta, que escreve, pinta e desenha o dia de hoje, dizendo como será o amanhã, se é que o amanhã vai chegar realmente.

Vem de dentro de todos o que está exposto no mundo que vemos: os excessos, as violências, e todas as coisas levadas aos extremos. Está dentro de casa o executor da lei inventada, o juiz da coisa julgada, o carcereiro da cela pensada que dá limites aos rebanhos de corações inocentes.