quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Nossas metades

Ela passeava distraída quando se viu mais jovem, atravessando a rua em passos saltitantes, de mãos dadas com um namoradinho. Cabelo preso na nuca, olhava pra tudo, pra todos. Divertia-se em sorrisos e olhares, o jeito jovem de observar essa vida. Seus passos escreviam histórias que, mal sabia, seriam vistas e lidas por transeuntes estranhos, que ela nem sonhava que um dia conheceria.

Então lembrou-se do jovem sorveteiro, que vinte anos depois ainda vendia ali seus sorvetes. Lembrou-se do dono da venda, onde agora ela comprava as coisas que sua mãe costumava comprar. E percebeu a padaria da esquina, que mudara de nome e de dono, mas que ainda era a padaria da esquina. Lembrou e reviu muitas coisas no turbilhão provocado pela visão dela mesma mais jovem.

Agora, ela sabe que precisa trocar a saia que comprou, mas que veio com defeito. Entrou na loja, no seu velho bairro, seu bairro de sempre, e fez o que tinha que fazer, pensando no que compraria no supermercado. Lembrou que era sexta-feira, dia de lanche no jantar. Fez tudo o que tinha que fazer e foi caminhando tranquila de volta para casa. Na esquina, viu-se novamente caminhando mais nova, e chamou alto sua filha: vem, vamos pra casa!

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