quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cinismos propositais

Morreu a musa, bateu asas e voou. E gritou, desgraçada, um grito de garça, irritante e solitário. Morreu sozinha, a filha da puta. Mas foi bem merecido, de tanto desdenhar o esforço de quem só lhe pediu algumas linhas. Que queime então no inferno das novelinhas. Alguns diriam “oh, pobre coitada! Morreu tão jovem...” Ora, que se foda, desalmada. Foi-se jovem, mas foi-se tarde. Bem tarde.

Outros, agora, dizem “as linhas ficaram tortas e as rimas, despedaçadas.” Pois então não leiam, não percam tempo. Não gastem os olhos se não entendem nada. Porque mesmo tortas, as linhas falam. E, se não rimam, também não calam. Morreu a musa, e foi bem velada. E, apesar de tudo, morreu ainda amada. E ela sabe disso, todo mundo sabe. Está bem escrito em sua linda lápide.

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