domingo, 27 de dezembro de 2009

Quase nada sobre planos

Todo plano é feito para funcionar ao contrário, na contramão dos nossos desejos. Motivo, pode ser qualquer um.

Na receita do meu bolo então vou começar a adicionar uma generosa dose de mero e displiscente acaso.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Nem tudo, nem todos

Nem todo ano é ruim, nem todo choro é tristeza. Nem todo sorriso é irônico, nem todo disfarce é engano. Nem toda ausência é voluntária, nem toda alegria é gratuita. Nem todo grito é um alerta, nem toda palavra é cruel.

Nem tudo o que dizemos é verdade, nem todo mistério tem solução. Nem tudo o que sonhamos é sonho, nem todo sonho é mera ilusão. Nem toda impossibilidade é eterna, nem toda a eternidade é impossível.

Nem tudo o que reluz é nosso, nem tudo o que é nosso continuará reluzindo.

Nada temos, mas nada temo.

Nem toda saudade é tormento.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Desconcerto

Se eu fosse mágico, teria mudado muitas de suas decisões a meu respeito. Teria mudado sua visão com relação ao meu orgulho e minha soberba. Teria te mostrado o outro lado da minha moeda, o lado certo. Se eu fosse mágico, teria dado vida às flores que nunca te entreguei.

Se eu fosse um pintor, teria te ensinado como misturar minhas cores, luzes e sombras. Teria te explicado meus rascunhos, provas e ensaios. Tentaria te fazer enxergar arte nos meus rabiscos infantis. Se eu fosse um pintor, eu poderia ter me desenhado melhor.

Se eu fosse um cientista, poderia ter inventado meu próprio manual, para que você pudesse ler e então não se assustar com meus intrincados mecanismos. Se eu fosse um cientista, eu poderia ter detalhado tudo aquilo que eu sentia enquanto você dormia.

Se eu fosse um intelectual, teria te convencido de que eu não estava totalmente errado em tudo o que eu fazia. Poderia ter acrescentado um pouco de naturalidade à paixão desenfreada que eu vivia. Certamente isso teria feito uma grande diferença.

Se eu fosse um camponês, tudo teria sido mais fácil, porque eu saberia onde arar, quando plantar, como regar, como cuidar de algo tão frágil como só um amor tão intenso pode ser. Se eu fosse um camponês, teria feito desse amor o meu sustento, e não meu desalento.

E, se eu fosse tudo isso, teria sido capaz de fazer tudo certo e muito mais. Teria sido capaz de entender e não julgar, e ser julgado sem me importar. Teria tido paciência, humildade e resignação para aceitar tudo o que um dia eu achei que merecia.

Ensaios disfarçados

Há perigo nas ruas da cidade, nas cidades do país, nos países do mundo. Há perigo nas esquinas, nas casas, nos bares. Há perigo nos olhares, nas disputas, nas discussões. Há perigo, muito perigo em tudo o que vemos, e muito mais no que nos mostram.

Há mensagens em tudo o que acontece. Há avisos nas buzinas, nas placas, nos sinais. Há mensagens nos gestos, nos trejeitos, nos vendavais. Há mensagens nos filmes, nas cenas, nos terminais. Há mensagens tão claras que não é possível ignorá-las.

Há palavras que não se falam, não importa o que aconteça. Há palavras que se calam frente à ignorância que nos cerca. Há palavras escritas pela metade, entendidas pela metade, e metade delas fica realmente esquecida flutuando no ar que respiramos.

Há indícios de intolerância quando não ouvimos o que desejamos. Há indícios de problemas quando a solução nos parece distante. Há indícios de traição quando não confiamos em nós mesmos. Há indícios de homicídio nas gotas de sangue espalhadas pelo chão.

Há sentimentos que escondemos quando nos sentimos pressionados. Há sentimentos que nos traem quando desejamos mais do que pensamos. Há sentimentos que enobrecem, empobrecem, enaltecem, fazem de nós simples marionetes.

Há um começo e um fim, e um meio por onde vagamos, entre escolhas e incertezas das quais muito duvidamos. Há pouca paciência em nossa vida tão moderna, tão movimentada e consumista. Pouco pensamos em nós mesmos, importantes mesmo são as coisas.

O início e o fim separados por um fio, um estalo e acabou. No cano de uma arma, na lâmina sobre a qual nós caminhamos. Tudo acaba e silencia, e o que era nosso não existe mais. Não faz sentido dar valor a bobagens, bugigangas. É preciso estar atento ao que está por dentro.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Fundo de armário

O passado é página virada, caminho sem volta. O passado é tudo aquilo que se foi, que não retorna mais. É dia e noite que se perderam nos relógios e calendários. Nos livros de história ou na lembrança comum. O passado é aquilo que não vai mais acontecer da mesma maneira.

O passado é foto amarelada, guardada em segredo, segredo sem confidente. É o que queremos a todo custo esquecer, enterrar, colocar na caixa, guardar no fundo do armário e só mexer se tiver que mudar de casa. Tem tanto de tudo parado no passado que nos faz até engasgar.

O passado é pouco diante do que queríamos para aquele futuro que já se foi. E tudo o que gostaríamos de ter feito e vivido acabou ficando para depois, um depois que não tem mais possibilidade de acontecer por causa das decisões que tomamos. O tempo é composto por decisões.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Relâmpago na escuridão

Eu vi o tempo correr montado num cavalo lindo e louco, rápido e selvagem, esmagando a relva das lembranças de eras de vidas que trilharam aqueles caminhos. Indo e vindo, dançando ao sabor dos ventos que cruzam as superfícies.

A certa altura eu já não conseguia perceber se não era então o cavalo a montar o tempo, as imagens tornaram-se borradas, enquanto a velocidade de tudo aumentava, causando vertigens e confusões.

Havia momentos em que os topos das montanhas se desgastavam diante dos ventos e chuvas de um mundo muito jovem e agressivo. Não havia lugar para poesia naquela progressão, tudo era início, estrondo e explosão.

E cavalo e cavaleiro corriam sem parar, cada vez mais rápidos rompendo os dias como se fossem simples minutos diante da eternidade impassível. Debruçado no peitoril da janela o Maior acompanhava a pequenez da aparente desordem.

Assim se sucederam as eras, uma após a outra, muito suaves se testemunhadas à distância, mas bruscas e cruéis quando vividas por dentro. Em muitos disfarces era visto o cavaleiro. Fez sofrer e sorrir aqueles que se viram em seu caminho.

Agora o cavalo parece se cansar após incontáveis anos de incansáveis cavalgadas, clamando por um novo ciclo de renovação. O cavaleiro conclui suas somas com maior voracidade, tentando poupar sua montaria. Tudo está indo mais depressa.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Um dia isso vai mudar (?)

Existe um abismo que nos separa daquilo que mais queremos. E este abismo se abre dentro de nós mesmos, alimentando-se de nossos temores.

Os mundos em que vivemos geralmente orbitam distantes dos mundos que mais desejamos conhecer, pois nossa natureza ainda é dominar e destruir.

As palavras que dizemos soam como aveludadas notas musicais ou sibilam como pequenas adagas dependendo do quanto nos sentimos adulados.

Nossa capacidade de ajudar está condicionada àquilo que pensamos ser possível obter de volta, já que o desinteresse é por enquanto apenas um exercício.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Guerra do mundo

O mundo se movimenta em formas de sombras e cores, luzes, som, silêncio e vazio. O mundo está habitado, está repleto, em constante transformação. O mundo vai sobrevivendo, respirando com dificuldade, tomado por violentos choques de ira para depois amanhecer em beleza resplandecente. O mundo se divide em cordilheiras e se esconde em profundezas abissais, e na ausência total de luz se recria para com glória e poder voltar à superfície clamando por respeito e homenagem. O mundo se cala no fim da tarde e sopra seus ventos suaves em campos intraduzíveis, tinge de dourado todas as outras cores como se um de seus pincéis fosse o mestre para todos os outros. O mundo baila no vazio da matéria sutil, atraído e repelido ao mesmo tempo por seus irmãos, tão belos e majestosos quanto ele mesmo. O mundo levou anos sem conta para se vestir de azul e se tornar nossa única morada, num trabalho hercúleo, onde sacrificou-se vezes sem conta para poder renascer e se tornar perfeito. Um trabalho incessante que mesmo agora está em curso, em curso constante, pulsando com força inabalável sob os nossos pés e mostrando que embora esquecido e desfigurado ele se mantém firme em seu propósito de nos sustentar.

Ele é apenas um, pequeno grão de areia em meio a um todo que é tudo e ainda se expande. É apenas uma pequena amostra do que pode ser encontrado lá fora. Pequeno, singelo, frágil e ao mesmo tempo colossal, parte de um sistema físico e químico, parte de nós, parte de tudo, tudo para nós que não podemos ir além dele. Ele habita em nossos sonhos e realidades, faz parte da nossa rotina, é alvo de nossas grandes ambições de sermos grandes, maiores que ele e todo o resto. E mesmo assim todo o resto ainda se mantém tão distante que só podemos alcançar em sonhos. O mundo não se ressente de nossa falta de interesse, ele se dispõe e nos oferece moradia segura, porto seguro. Nos satisfaz a fome, a sede, mas embora grandioso, não é capaz de satisfazer nossa ganância. O mundo sobrevive a nós e se mantém firme no propósito de se manter em equilíbrio com seus semelhantes, para não desestabilizar o todo, porque isso seria muito prejudicial para tudo e para todos. O mundo se mantém, por pura bondade, pois foi criado em bondade e inteligência, uma inteligência que não conseguimos dimensionar tal a engenhosidade e enormidade dos mecanismos em movimento que testemunhamos, cálculos complexos dos quais também somos frutos.

As certezas

Quando existe a certeza da despedida, e toda despedida traz sua carga de pesar, surge aquele aperto estranho no peito, a saliva não desce pela garganta. A respiração foge um pouco do controle. Saudade antecipada.

Quando existe a certeza da despedida pode ser que seja possível estar preparado e não deixar rolar uma lágrima. Talvez olhar nos olhos de um jeito disfarçado, fingindo que por dentro o vazio já está preenchido e bem costurado.

Quando existe a ausência é que realmente pensamos nos valores de certas coisas. E muitas vezes as menores coisas são as mais valiosas. É como quando as crianças choram por sentir sono quando desejam tanto ficar acordadas. Apenas para ficar mais um pouco conosco, apenas para sentir mais meia hora de felicidade. E nós, muito adultos, pensamos que elas apenas querem brincar... Como se brincadeira não fosse coisa valiosa. E pura.

E quando existe a certeza do retorno fazemos planos para que tudo funcione com perfeição, limpamos tudo, arrumamos a casa, vestimos uma roupa bonita. Vamos ao supermercado, compramos até frutas e legumes. Pensamos até em cozinhar.

Quando existe a certeza do retorno todo aquele tempo de saudade e certa tristeza deixa de existir num piscar de olhos. Pode ser que brotem lágrimas, pode ser que a saliva não desça pela garganta, talvez o nariz comece a escorrer.

Pode ser que a respiração fuja um pouco do controle.

E num abraço apertado pode ser que enterremos meses de tristeza para poder viver pelo menos um dia de felicidade.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pedras no travesseiro

Buscamos aquilo capaz de nos lançar de volta ao momento em que erramos, para que nos seja possível corrigir o erro e não sentir mais o peso da culpa. Buscamos a resposta que não está em livros escritos por mão humana. Buscamos o conforto que tínhamos na presença daqueles que já não estão mais aqui. Buscamos evitar aquilo que não se pode evitar, de que não se pode fugir.

Usamos nossas capacidades para esconder nossas fraquezas sob grandes obras. Usamos todos aqueles que nos cercam para atingirmos nossos estranhos objetivos. Atormentamos aqueles que só querem a paz e ignoramos nossos verdadeiros inimigos. Perseguimos a verdade fazendo uso de mentiras. Tiramos as vidas de outros e também ousamos tirar nossas próprias vidas.

Estamos sempre decidindo o que é melhor para nós e o que é melhor para os outros, sem dar aos outros as mesmas oportunidades. Estamos deitados no berço esplêndido da soberba, que nos proporciona o agradável sono da ignorância. Fechamos os olhos diante dos espelhos. Damos muita importância ao pouco que ganhamos, e pouca importância a tudo que perdemos.

Fazemos o que podemos para esquecer o dia anterior apenas para fazer o mesmo dos dias que virão. Tentamos preencher nossos vazios com coisas imaginárias e nos impedimos de imaginar que tudo isso nos faz tão mal. Estamos cientes de nossos erros colossais, de nossas grandes injustiças, e sofremos ainda mais por não nos imaginarmos capazes de perdoar a nós mesmos.

E embora pareça o contrário, isso tudo não nos permite dormir tão tranquilamente...

Auto-(des)ilusão

O tempo que nos degola com seus dedos invisíveis, o trabalho que vai além dos nossos horários e capacidades, o ciúme que atormenta nossos amores, as traições das quais fazemos uso para dar um passo adiante, o descaso com que tratamos aqueles que não têm o que temos, o vazio de nossas reflexões, os complexos sobre nossos ombros, a falta de bom senso na busca por momentos felizes.

A violência que existe em todos nós, o desrespeito a tudo o que não nos agrada, a pouca vergonha que temos em admitir que preferimos ter a ser, as mentiras que cultivamos, as espécies que extinguimos, os valores que distorcemos sob o peso de nossa ganância, o absurdo valor que damos ao dinheiro, o medo que temos de nos olhar nos espelhos que refletem nossas almas, o medo que temos da solidão.

A natureza que não se adapta a nós, que nos fere, que destrói nossa criação. O tempo que não muda, a chuva que não chega, a estiagem que atrasa, a erosão que atrapalha. As sementes que não germinam, as pragas que se espalham, a poluição que nos faz adoecer. As vozes que se calam diante das brutalidades que cometemos, os abusos que dificilmente conseguimos evitar.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Absurto

Não acho que precisemos nos preocupar com o inferno quando deixarmos de existir aqui. O ideal é tentar sair do inferno com menos tormentos do que tínhamos quando chegamos.

Difícil digestão

Os momentos de carinho e afeto que tivemos são testemunhas de como nos esmeramos para evitar o certo fracasso ao qual estamos fadados desde que nos tornamos incapazes de amar verdadeiramente. Amor e possessão são tão conceitualmente diferentes quanto são iguais perante a nossa muda ignorância. E, uma vez após a outra, experiência após experiência, cometemos os mesmos deslizes, seduzidos pela possibilidade de manipular aqueles que escolhem estar ao nosso lado.

Mais do que vivemos ou sentimos, a importância maior é sempre o que temos e conseguimos manter. Tratamos a nobreza dos sentimentos com a mesma praticidade com que escolhemos peças de roupa no dia a dia. Trocam-se as pessoas, mudam-se as situações, vão-se os anos e o resultado é sempre o mesmo. Parece então muito lógico que não são estes os fatores que determinam os erros. Parece claro que os erros advêm de nós mesmos, já que todo o restante se alternou.

Mas, ao mesmo tempo em que tudo isso parece muito esclarecedor, trata-se apenas de discurso vazio, pois não nos foi ainda possível encontrar a fórmula ideal para escaparmos da inevitabilidade do erro. Todos nós, quase sem exceção, caminhamos pelas mesmas trilhas, tropeçamos nas mesmas pedras e pisamos as mesmas pegadas. É apenas em momentos de profunda reflexão que conseguimos admirar a grandiosidade de nossos enganos. Nesses raros momentos, nos perdoamos.

É certo que vamos continuar o mesmo caminho, reformando muito lentamente nossa construção interior. É certo que eras se passarão até que nos seja possível assimilar naturalmente os resultados de nossos momentos de reflexão. E também é certo que esse passo adiante será irremediavelmente dado por cada um de nós, no tempo certo.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Escolhas

As escolhas que fazemos erguem-se como muros ao nosso redor. Alguns baixos, outros altos a ponto de nos jogar de volta ao chão. Alguns protegem, outros seguem na contramão: expõem. Alguns cedem sob o peso de nossos desvios de caráter e falta de bom senso, outros tombam diante dos golpes desferidos pelos inimigos. As escolhas que fazemos nos trazem aqueles que queremos ao mesmo tempo em que nos afastam de nós mesmos.

As escolhas que fazemos influenciam tudo o que nos cerca. Acontecimentos e pessoas tornam-se meras reações, resultados. Uma escolha demanda cuidado e reflexão. Muitas variáveis podem advir de qualquer pequena mudança de pensamento. E essas variáveis podem nos surpreender e nos desarmar. E então nos sentimos nus e desprotegidos, pois somos colocados do outro lado de nossos muros, como se diante do pelotão de fuzilamento.

Mas o ato de escolher não pode ser tolhido, é uma força que deve nascer de alguma Lei Natural que simplesmente não pode ser refreada por nosso insignificante desejo. Nossa única opção é obedecer a este comando invisível e tentar fazer o melhor que podemos. É inevitável que em algum ponto do tempo surjam frustrações, arrependimentos, angústias e apenas algumas poucas alegrias. É como estar numa sala de aula aprendendo uma lição incessante.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Para os átomos

Olá, estamos aqui, nessa rocha suspensa, a terceira a partir da estrela, girando sem parar. Estamos aqui, tentando encontrar um caminho a seguir, uma palavra a dizer, um momento para partir, algo novo a fazer. Olá, estamos aqui, esperamos por vocês, não sabemos se realmente existem, pedimos um sinal, uma visita.

Nós enviamos palavras, sinais, discos, músicas. Fórmulas, parcos conhecimentos. Nossa pobre tecnologia. Enviamos preces, desejos, pedidos. Fazemos tudo o que podemos, mesmo que não faça sentido. Nos sentimos solitários diante de tamanha imensidão, somos bilhões, mas estamos imersos em grande solidão.

Somos sentimento, razão, emoção. Erramos com os erros, acertamos sem querer disfarçar nossa indecisão. Plantamos, extraímos, poluímos, remendamos. Desconhecemos as magias, ignoramos as ligações entre tudo o que existe, nos esquecemos que somos parte de um todo que sobrevive além dos dias, meses, anos que dividem nossas vidas.

Clamamos por um contato, um chamado, qualquer dia. Queremos algo novo que nos prove quantos anos nós perdemos cultivando ignorância. Precisamos provar a nós mesmos que temos importância diante de tamanha grandiosidade. Mesmo relutando em demonstrar toda a nossa generosidade.

Precisamos de uma mão, um mapa, um guia. Algum sinal de inteligência mais inteligente do que a nossa teimosia. Uma palavra, um ombro amigo. Queremos um ponto final ao que temos discutido. Uma resposta para o amor que sentimos por algo ou alguém que desconhecemos, precisamos de algo que não temos.

Olá? Estamos aqui!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Simples teoria

A felicidade é como o tempo: passa e se soma. Portanto não é possível voltar a ser feliz, assim como não é possível voltar no tempo. É possível apenas ser mais feliz.

Incentivo a mim mesmo

Existe vida além da obrigação diária de nos prendermos às regras de um sistema que nos consome em desperdício. As amarras dos horários restringem a mente, que nem sempre consegue funcionar sob as mãos repressoras das minúsculas janelas de tempo que criamos para nós mesmos.

Prazos um pouco maiores e um relaxamento nas regras certamente acarretarão num melhor aproveitamento intelectual, favorecendo o senso crítico. É preciso que se tenha consciência de que não vivemos dentro de uma linha de montagem, não somos mecanizados.

As criações humanas devem objetivar nosso bem estar, e não selar nossa escravidão, como tem acontecido. A mente humana é instrumento de produção incessante, mas não é máquina: necessita liberdade, tempo. Estes são os ingredientes dos sonhos, que por sua vez são as sementes das grandes realizações.

Num mundo tão inescrupuloso e competitivo, a rapidez é importante. Mas nenhuma construção resiste ao tempo sem que sólidas fundações a sustentem.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Espelho

Onde estão guardados os segredos que precisamos desvendar para que possamos atingir os pontos que devemos atingir?

Onde está sendo mantido este conhecimento, que quando obtido será capaz de mudar o curso de tudo o que existe?

Quem estaria escondendo as palavras capazes de elucidar todas as dúvidas que nos atormentam em todos os dias que passamos aqui?

Após tanto tempo olhando para fora, pode ser que seja hora de procurar a resposta olhando para dentro...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Uma guerra

Uma tarde sem qualquer poesia se esgueira pelas horas do dia, tentando encontrar uma noite que não traz promessa alguma, dentre tantas, apenas mais uma: retorna ao exílio, quieta. A beleza da existência tropeça na pequenez da resistência expressa por nossas formas de amar.

Segue o estranho rebanho com olhares de transe, e por mais que se estranhe essa é apenas a face da normalidade. Uma guerra interna, sem tiro ou baderna, derruba inimigos vestidos de amigos e nos tira do abrigo fiel, erguido em homenagem às feras que precisamos matar.

Solstício

Com um rugido duradouro estouram os fogos dos solstícios festivos, todos cobertos de ouro, rumo ao precipício para saudar os deuses do rito lascivo, que protegem a colheita das aves furtivas, que ficam à espreita.

Estão todos atentos ao sacrifício da Virgem, deitada ao luar.


E, no silêncio da meia noite, a hora dos amantes, é sacrificada a virgem: morre a Inocência...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Para casa

Por mais que façamos, por mais que tentemos, por mais que gostemos do lugar em que estamos, por mais que estejamos sempre no mesmo lugar, parece que as feridas nunca vão se fechar. Enfim, é assim, parece um ciclo sem fim, sem descanso ou recanto, silêncio de espanto. É extenuante o exercício de pensar.

Se faltam palavras, sobram olhares. Apesar dos pesares os pesos que comandam a balança dançam em pêndulos de insônia sonâmbula, e com sonhos estranhos o sono se agita. Em giro constante o mundo transita entre momentos de dúvida, depois possibilidades infinitas, mas a janela se abre só para depois se fechar.

Este é o movimento constante das ondas do tempo, que dragam e reviram, ajustam e dispersam as ideias que antes pareciam corretas. Mas para aparar as arestas parece preciso insistir, reviver, digerir. Aceitar o vai e vem, o retornar, o partir, deve ser a única forma de perceber que é só o amor puro que nos faz resistir.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Estranhas engrenagens

Difícil enxergar bondade nas pessoas, difícil enxergar isso em nós mesmos. Estranhamente bela e trágica é a vida, que se esvai a cada minuto que passa. Estranhamente comemoramos aniversários, dando vivas a uma caminhada lenta cujo final desconhecemos. Estranhamente escolhemos amar o que mais nos fere. Difícil enxergar através das brumas de ilusão que recobrem nosso estado de consciência atual.

Nos rompantes de impaciência estão escondidos os segredos que revelam quem somos na essência. Pequenos tiranos sem fé, retalhos de convicções traídas, ideais frustrados, ídolos assassinados. Partidos em pedaços por nossos iguais, nossos corações teimam em impulsionar nossos corpos surrados pelos segundos que não cessam, conduzindo-nos em direções opostas as dos nossos sonhos mais felizes.

No mar das dúvidas que nos cerca flutuam pequenos barcos, levando embora as coisas que nos são mais caras, das quais cuidamos com pouco carinho e que sopramos para longe com a força do egoísmo que cultivamos, para aplacar a sede de nossas fraquezas. Pobres diabos somos nós por não conseguirmos enxergar um palmo adiante de nossos narizes, orgulhosos em superar certas perdas, ao invés de evitá-las.

Parece impossível que haja qualquer luz capaz de romper as trevas de tais pensamentos, por mais abertas que possam parecer nossas mentes. Parece certo que antes do final não haverá conforto. Nossos sentidos, todos confusos, nos impedem de relembrar quem somos, e que estamos aqui a mais tempo do que podemos contar, lutando contra tudo e contra todos, numa jornada incessante.

E nos esquecemos que sobrevivemos. E vamos continuar sobrevivendo, não importa o que houver pela frente, seja esta nossa vontade ou não. As coisas vão continuar se movendo entre lapsos de um tempo que ninguém sabe explicar se existe ou não. Pode ser que continuemos caminhando na contramão, mas não há nada que possamos fazer para frear os Processos Perfeitos que não entendemos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Rápidas

Uma desculpa para cada fracasso, um fracasso para cada tentativa, uma tentativa para enganar o cansaço. Em tempos como esse, de descaso, o pouco caso que fazemos chamando o destino de mero acaso, nos inunda de vazio e atraso. E isso nos leva a não fazer bem a ninguém.

A cada sinal de ira, a própria ira se expande, vai além do pensamento e da palavra, indo de variável a constante.

E isso nos leva a não fazer bem a ninguém.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Conto de fatos

A teoria é tão bonita, vestida de donzela, toma forma tão singela, reconforta e simplifica. Traz luz ao mundo escuro da nossa insegurança, transforma o medo em esperança. Demanda horas de trabalho em que se prova o que era improvável, desvendando as vias para o inviável. Perfeita em planos no papel branco, encobre os erros com seu manto.

Então chega a prática, feia, maltrapilha. Com equações de falhas na ponta de sua língua. Torna-se mãe sem qualquer amor por sua filha. Esmaga a teoria com sua vasta crueldade, mostra o caminho inverso e separa o sonho da verdade. Atira-se sobre nós com peso esmagador e clareza inclemente, iluminando nossos erros de forma muito eficiente.

Sem horas de sono

Uma boa noite de insônia, olhos abertos sem sonhos, abertos ao vazio. O vazio da criatividade que se desespera, restrita em sua prisão. Uma voz que se cala, sem escala, sem nota. O passado que arde nos labirintos da imprecisão.

Um dia de labor glorioso e cansaço ingrato. Dores nos músculos, articulações e nervos. Sintomas de horas que não passam no descompasso dos ponteiros do relógio. O insistente desconforto entre uma e outra refeição.

Tempo calado com coisas inúteis, viajando em futilidade sem doação. Desperdício de talento, impaciência e decepção. As horas de oração, passadas em imagens desconectadas da realidade, amor sem reflexão.

Sopra o vento na janela e geme a noite escondida nos espaços que nos separam, matéria escura que nada liga, passe de mágica passageira e ilusória. Não há conforto para o corpo que não responde ao que é bom.

Traçados, planos de conquista e redenção se rendem ao infortúnio da solidão, escorregam pelos dedos de um destino sem sentido, mergulhado em confusão. A Lua se despede do apogeu e descende agora sem direção.

Amanhece o dia, mais um dia, destituído de emoção. Há muito que fazer, mas a vontade nesta morada não mais reside, abandonou. Levou em suas tralhas tudo a que renunciou. A vida prática, tão errática, se espalha pelo chão.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Os círculos

Se quisermos ver germinar, precisamos plantar, regar, cuidar, acompanhar.

A volta ao passado pode trazer revelações importantes ao presente, que é o momento em que escrevemos o futuro que logo se tornará o grande livro de nossa história.

A reflexão e o retorno à essência podem tornar-se respostas para as questões que fazemos a nós mesmos quando conseguimos escapar da dispersão e olhar no espelho.

O tempo anda em círculos cada vez mais velozes e constritos, como nós que se apertam, querendo nos levar de volta ao ponto em que nos percebemos vivos e plenos.

É claro o fato de que todos nos perdemos nas caminhadas, por vários motivos, em várias ocasiões, nos distanciando do caminho original e nos esquecendo de quem somos.

Mas ainda somos as crianças que fomos, apenas ficamos maiores. Nenhum fato pode ser trazido de volta, mas podemos fazer coisas novas com o mesmo frescor.

Basta vontade verdadeira. E tudo será diferente e bom novamente.

Dez e quinze

Às voltas com um mundo em constante mudança nós seguimos caminhos divergentes, convergentes, intransigentes. E vão se modificando os ventos, as chuvas, as cores, as dores. O mundo, em suas voltas, volta-se contra nós.

Mas isso é apenas reação, o problema é a ação. O problema é o que ignoramos dentre as coisas com as quais nos importamos. O problema é o que nos tornamos. Cada um em seu universo, restrito a si mesmo, relacionando-se a esmo.

E enquanto o tempo finge-se passando, mas em verdade se atropelando, vai empurrando para o passado mesmo o que ficou inacabado, sem cuidado. Para trás vai ficando o diálogo calado, mendigando trocado.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Breve reflexão

Dizem que amor é recurso infinito, dado de bom grado a quem se deseja, de formas diferentes, de formas iguais, independe de como se entende, seus caminhos sempre são naturais.

Então é possível amar várias pessoas de uma mesma maneira, ou de várias maneiras amar uma pessoa. O que faz a diferença é o compromisso, que assim que assumido, transforma a coisa toda.

Será que esta é a origem de todo o nosso egoísmo?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Texto-tema

Prove pra mim que o Universo é acidente ou que o condenado mente, vendo-se diante da forca. Prove que as cores não existem e que os desistentes insistem. Prove que nossa fé não é pouca.

Prove que os ventos não sopram ou que os políticos não roubam. Prove que não somos idiotas, e que todos neste país são verdadeiros patriotas.

Prove que Deus é pura invenção, e que somos frutos do mero acaso. Prove que de algumas rimas não se faz uma canção. Prove que a planta só vive no vaso.

Prove que não há vida em outros planetas, e que estamos sozinhos aqui, entregues a um pobre destino que só é conhecido quando chegamos ao fim.

Prove que o nada existe, e que este não faz parte de um todo: o todo que é tudo que está dentro de ti. Prove pra nós, prove pra mim.

Fique à vontade, faça-se otário: tente provar o contrário.

Menos do mesmo

Mudanças assustam porque quebram as rotinas, desestabilizam a preguiça, nos obrigam a levantar. Dão novas cores ao velho filme do dia a dia, permitem novas aventuras, nos fazem crescer. Muito melhor do que o cinzento ritual de cada dia, as mesmas mesas, as mesmas vozes, as mesmas caras. O mesmo tudo do nada diário, o mesmo vazio ordinário. Sim, a mudança merece acontecer.

E se não houver otimismo vamos todos mergulhar no ostracismo, é preciso coragem para obter a vantagem que é sonhar com o dia seguinte. Sem isso é melhor nem começar.

A grande diferença entre uma coisa e outra é o ponto de vista, a forma de enxergar. Quando o cenário não é otimista é preciso inovar. É preciso encontrar um novo caminho, a inércia deve ser contradita. Existem muitos caminhos a explorar. Há conforto em dizer não àquilo que atrapalha, assim como àquilo que atrasa. O “não” é elemento indispensável, não deve ser ignorado, é preciso que se escolha um lado.

Esquecer os medos infundados de um amanhã incerto é a única chance que temos para viver com mais alegria, mais energia. A acomodação doentia é apenas atalho para uma vida vazia.

Que venha o amanhã.

domingo, 20 de setembro de 2009

Solidão não é solitude

A peça vivida, os textos falados, as lágrimas corridas, o amor tão esperado. Nota-se o tempo passando, a inocência morrendo, os erros cansando, o corpo sofrendo. Mas parece difícil enxergar a essência daquilo que corrói, o detalhe que destrói, e o vazio que tanto dói.

São tantos defeitos para os olhos aflitos, sentimentos tão esquisitos, não tem muita explicação. Ninguém deseja que tal bomba detone, libertando essa maldade insone que consome o coração.

Sempre desejamos palavras bonitas, mas nem tudo nesta vida consegue se esconder do mal. As mais belas notas são as que soam tristes, as palavras mais belas as que instigam conflito. Mas ninguém deseja um dedo em riste, ou feridas abertas a grito.

Não há carga que não possamos carregar, nem erros que não possamos corrigir. A Verdade vem se apossar e não é possível resistir. Embora não haja interrogatório, as respostas escapam, no vai e vem de um julgamento transitório, e então os detalhes se destacam.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cotidiano

Não existe otimismo desperdiçado na aventura do nosso cotidiano. Os dias nascem ensolarados, mesmo quando não podemos sentir o calor do sol ou perceber cores além das variações de cinza. E cada dia, um novo desafio, uma nova aventura.

Os caminhos devem sempre levar à liberdade, com equilíbrio, um passo de cada vez, mas cada vez mais distante do primeiro passo. Que este fique para trás, como lembrança, cada vez mais para trás. E, se não houver caminho visível, é indicado trilhar um novo.

E é muito fácil: basta empregar coisas que levamos dentro de nós, como vontade, desejo, esforço, esperança. Coisas que nascem conosco, e que não necessitam de aprendizado. Apenas de liberdade. A mesma liberdade de que todos nós precisamos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mudanças...

Em tempos tão conturbados parece até estranho, ou mero exagero, fazer planos para daqui alguns meses. Pensar em alguns anos, então, parece absurdo. Será que é porque o tempo está passando mais rápido que o normal?

Em dias tão curtos e difíceis parece pecado pensar em ter tempo livre para não fazer nada. Mas as pessoas se esquecem que ”fazer nada” é absolutamente impossível: a mente jamais pára de funcionar enquanto há vida pulsando no corpo.

Portanto, tempo livre não é livre, é libertador: faz voar longe o pensamento, o que faz um grande bem para a alma, leva a descobertas, autoconhecimento. Portanto é preciso ignorar a culpa que nos empurram aqueles que têm preguiça de pensar.

Em tempos tão conturbados é uma benção ter a oportunidade de parar, pensar, sonhar, traçar, realizar. É uma oportunidade única, para ser agarrada e plenamente aproveitada. Então nada de culpa, remorso, preocupação. A mudança é uma das Grandes Leis.

E foi criada a nosso favor.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Vinte anos...

É muito, muito difícil deixar para trás velhos hábitos, hábitos quase tão velhos quanto nós. Hábitos que nem nos lembramos mais quando foi que começamos a cultivar. É como se pedaços de nós se espalhassem pelos caminhos que percorremos, insistindo em permanecer vivos como partes de nós, mas separados, arrancados à força.

Ficam pelos caminhos, nos desfalcando em vazios de ecos de erros passados, e erros que ainda estão por vir, e que fatalmente virão. E pediremos por mais, certamente. E nos consumiremos em fogo e fúria, acabando em cinza ou pó. E continuaremos pelos túneis em que o tempo desliza, em que as vidas passam.

Realmente é muito difícil deixar de lado certos hábitos, esquecer alguns nomes, perfumes, gestos, perdas. Mas há que se ter força, fibra, garra. Há que se encontrar dentro de si aquilo que parecia ter sido perdido nos anos que deixamos para trás. Reencontrar. Desejar. É necessário vontade, redescobrir dentro de si a criança risonha, forte, selvagem, inocente. Há que se redescobrir o amor.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O ouro do tolo

Muitos se escondem da felicidade, escolhendo cuidadosamente suas desculpas. Pode ser a falta de tempo, a dedicação ao lado profissional, um trauma, a vida maluca de uma cidade que não fecha os olhos.

Muitos fogem das alegrias e das boas gargalhadas, seguindo sozinhos para casa a fim de contar quantos estalos vão dar os móveis depois da mudança de temperatura. Muitos perdem as oportunidades, por simplesmente terem muita coisa na cabeça.

Mais e mais pessoas soam como robôs programados com gírias e penteados, sapatos e atitudes. Poucos se destacam na multidão que toma as ruas diariamente, no vai e vem sem fim. Mas ao invés de atrair, estes que se destacam acabam sendo isolados.

Mais e mais tempo se perde na busca por uma perfeição que neste mundo não vai existir. As coisas simples tornaram-se entediantes e os grandes feitos é que interessam. Grandes para a maioria, já que a minoria interessante só vê falta de bom senso.

O amor necessita esforço em grandes doses de pequenos gestos, pequenas coisas tão simples, que acabam parecendo complicadas e trabalhosas. Mas o amor dá trabalho mesmo, pois os grandes feitos, os verdadeiros, exigem grande dedicação.

O amor pode causar dor em seu percurso, despertando outros sentimentos que preferimos não encarar. Mas, como toda grande obra, traz ao final redenção e paz de espírito inigualáveis. Mas parece muito mais fácil viver as pobres paixões...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Trinta e poucos

Às vezes parece que o conteúdo se esvai, e o vazio é o que preenche. O sol cede seu lugar ao manto escuro das noites caladas. Nenhum som se espalha entre as colinas da incerteza, abafado o tempo todo pelas árvores das dúvidas. Os pássaros já não cantam, e as águas silenciam.

Às vezes parece um exagero o que sentimos. Mas pode ser que não seja nada disso. Acontece quando algo sai errado, fora do planejado, e ficamos sem saber por que é que insistimos em fazer planos. Afinal de contas, no final das contas, os planos nunca são só nossos.

E quando faltam as palavras, pode ser que tentemos com soluços. Respirações entrecortadas, olhares trêmulos, uma quase desesperada luta para encontrar um final feliz. Todos nós queremos um final feliz, mesmo que pareça muito distante. Mas, distantes, fazemos pouco para chegar lá.

Mas chega um momento, e a idade chega. Bate de frente, surpreende, se manifesta. De repente a velocidade das coisas muda, os sentidos tornam-se mais claros, as entrelinhas ficam mais visíveis, apesar da miopia, e da hipermetropia. Então as paixões se calam, o fogo se esvai, muito aos poucos. Os pensamentos se tornam mais claros.

E então vemos que não é nada disso. Era para ser tudo muito mais simples. Mas a juventude gosta de ser complicada. Ainda bem que o tempo passa.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Num ano...

Janeiro, estou maneiro. Fevereiro, ainda inteiro. Março, eu disfarço. Abril, por um fio. Maio, aniversário. Junho, um rascunho.

Julho, me embrulho. Agosto, sou um tosco. Setembro, não me lembro. Outubro, já não me cubro. Novembro, vai chovendo.

Dezembro, vou vivendo...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Algumas pequenas coisas dos pequenos deuses

Nos caminhos das ruas de solidão e quietude, mapas traçados de passos, pontilhados de riscos, dores e risos. Anos de vida, percorridos em dias de idas e vindas, encontros e despedidas.

Nas perguntas sem respostas, nos sorrisos infantis. Muito cuidado, todo o cuidado com os sentimentos febris, móveis, lembranças, quintal e jardim. Passos em nuvens juvenis.

Quanto tempo ainda nos resta é o mistério quem conta, é tempo contado, fogo sem ponta. É palavra cruzada, desafio de gibi, Turma da Mônica. Chiclé de bola, anos que a vida desmonta.

Dentro das coisas que vemos, sentimos, vivemos, herdamos. O que temos por dentro são folhas no vento, levadas embora, de repente nem nos importamos. Não, não sabemos para onde vamos.

Nessas noites sem fim, nesses sonhos sem fim... Nas histórias sem fim. Podemos ser todos o que gostaríamos de ser, enfim. E, quem sabe, podemos ter o que achamos merecer antes do fim...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Exatas e Humanas

No som do canto dos pássaros está a matemática que traz a tranquilidade para a alma. Na lousa as fómulas, cálculos, ângulos. Formas geométricas de conversas e risinhos, convergindo, divergindo, tangentes. Conversa paralela. Seres humanos estudando o horizonte beijado pelo sol de fim de tarde. É verão.

Os átomos se chocam em movimentos orquestrados, formando, desintegrando, explodindo, reagrupando. Velocidade, massa, órbita, cometa, planeta, estrela. Hélio beijando metano, fulana beijando beltrano. Hidrogênio, nitrogênio. Água. Ser humano.

Nas ruas passeiam os poetas concretistas, ou pintores amadores. Gênios capazes de dar forma à pedra ou madeira. Engenheiros das palavras escolhidas a dedo para causar suspense, lágrimas, sorrisos, qualquer coisa que queiram.

E com muita surpresa nota-se que nas formas loucas das pinceladas, na construção da poesia, ou até no vôo da bailarina. É incrível, mas até mesmo no simples ato de sentar-se e passar as horas pensando, analisando, filosofando. Dentro disso tudo, escondida quase acidentalmente, podemos vê-la: a exatidão.

E descobrimos que jamais viveremos um sem o outro...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sintomas das cores

Na vida todo cuidado é pouco: a vigilância deve ser constante. Melhores amigos podem ser cruéis inimigos, por conveniência ou reação. Mas não há inimigo pior que seu próprio "eu". Quando você se torna seu próprio inimigo suas chances de sucesso desaparecem, nada mais dá certo. Porque você é um dos poucos que conhecem suas maiores fraquezas, e suas fortalezas. E isso, para o inimigo, é um prato cheio.

Portanto, vigiar é a ordem. Observar atentamente, ler nas entrelinhas. Não adianta escolher quem vai ou não ser amigo. Nos dias atuais a lealdade mudou de nome, virou interesse. Portanto, é preciso vigiar a si mesmo, para não cometer a loucura de trair-se. É preciso fé e força de vontade para não ser sugado rumo ao interesse material, para o agrado das forças exercidas pela sociedade deturpada que nos cerca.

Todo poder neste mundo é efêmero. Assim como todas as posses e paixões, bondades e traições. Tudo é muito passageiro, e passa muito rápido, ultimamente. No final há o encontro com a sua consciência, que é juiza, e justa. Frente a ela não basta argumentação, justificativa ou coisa do gênero. A consciência é juíza, julga, condena ou absolve. E não há nada que possamos fazer para interromper este processo.

A cada dia uma nova pincelada no Pequeno Quadro, uma nova cor, uma nova sombra. As formas variam, a intensidade impressiona, a suavidade reconforta. O Pequeno Quadro se encaixa no Grande, que por sua vez é o resultado contínuo da Pintura Eterna. Temos a chance de fazer um Pequeno Quadro bonito, que se encaixe com leveza no Grande. A pergunta é: é isso mesmo que estamos fazendo?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sobre o falastrão e o jogo das palavras

Aquele que afirma ter compromisso com a verdade é apenas um falastrão. A verdade deve fazer parte do caráter naturalmente e, o compromisso, devemos assumir com nossos semelhantes.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Lição

É preciso temer verdadeiramente aqueles que consideramos aliados, e não os inimigos, pois nesses últimos não depositamos nossa confiança.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

E nasce mais um dia...

O mundo é um lugar cheio de riscos, linhas tortas, rabiscos. Os perigos são inúmeros, dá medo sair de casa. Carros, ônibus, fumaça, desilusão, mágoas. As frustrações das pessoas em fones de ouvido com fios brancos.

O mundo é um lugar frio e cruel, com seus horizontes restritos em prédios, chaminés e helicópteros. A pressa de todos. O tempo todo. A falta de tempo. Um segundo perdido não se pode recuperar.

Os meios justificam os fins, os meios já são os fins, na distorção de realidade que criamos como necessidade para nossos corpos. As cores já não geram poesias, geram apenas diferenças, preferências, hábitos, atitudes.

O vazio toma conta dos segundos que deveríamos usar para olharmos para dentro de nós mesmos. Um vazio sem ecos, puro vácuo. Os telefones tocam, as pessoas falam mais do que precisam, o tempo todo, sobre a falta de tempo.

Tem que ser agora. Tem que ser por este preço, senão a frustração aumenta, consome, até o próximo consumo. No consumo o sorriso de felicidade vazia e fugaz: consegui! Agora eu tenho. Agora eu posso. Agora eu sou.

Somos aquilo que temos ou temos aquilo que somos? Temos aquilo que podemos, ou somente o que precisamos ter? Temos mais do que muitos, e muitos não têm o que comer. Somos mesmo tudo o que podemos ser? Ou queremos apenas ser mais do que devemos?

Olhares perdidos, óculos escuros, gírias coloridas, pensamentos escusos. A propaganda é a alma, vamos vender as nossas almas. O deus-moeda abre os braços, ganância e descompasso. Desconfio que não era esse o plano original.

E os deuses que criamos, vão nos abandonando...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Fogo e cinza

Quando eu não puder respirar, meu amor, não me desça à Terra. Não me deixe aos pés dos inimigos. Atea-me fogo, que é de onde eu vim...
 
Do fogo do amor dos meus pais, do fogo do amor que sinto por ti, do fogo que nos dá a razão. Sou fogo, serei cinza...
 
Nunca fui pedra, não me permita ser pó.

Estação da luz

A prima Vera era linda, em seu vestido de domingo, na igreja, em oração. A prima Vera era alta, irrepreensivelmente elegante... Ela era um Verão!

Mas numa tarde de outono, a prima Vera adoeceu, num frio de apertar o coração...

E passou frio todos os dias, até acabar o inverno. Ainda bem que depois do inverno tudo pode mudar... E, quem sabe, com a primavera novas flores nascerão?

A saudade da primavera era enorme... Ah a primavera... Quando a prima Vera virava flor!

Então o vento levou o inverno embora. No horizonte, a luz da nova estação. Em olhos castanhos, profundos, refletido em nuvens de amor.

Chegou de novo a primavera, prima Vera! Corra lá fora, sinta o perfume e a natureza viva em cor....

Pergunta-se agora: a prima Vera vai virar flor?

Tomara que vire agora, antes que vire, de novo, verão...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Fragmento

Quando o tempo se transforma no pó que incidentalmente cobre as nossas memórias, quando nossas memórias já se fazem amareladas e recebem poucas visitas. Quando os vidros nas janelas assumem aquela aparência opaca e leitosa. Quando o sussurrar do vento embala o sono da idade. Quando tudo isso acontece, num belo quadro de óleo e conflitos, nos tornamos o que somos.

Despimos as vestes e armaduras que imaginamos ao nosso redor. Nus ao luar, tensos ao vento da madrugada, verdadeiramente simples de coração e mente. Um resumo de todos os sentimentos que se infiltraram em nossos possíveis espíritos durante nossos curtos dias. Contorcidos em dores e sorrisos, lágrimas de pura alegria ou sombrio desespero, no espelho à frente somos novamente, finalmente, apenas pequenas criaturas indefesas buscando algo Maior, que explique a Essência dessa confusão que respiramos.

Nus, nos tornamos humanos. Apenas uma espécie de animal que habita neste planeta, mas que não sabe mais habitá-lo. Sem a proteção de nossas barreiras imaginadas somos pele, osso, tormento, felicidade. Sem muros e grades, somos tudo que poderíamos ser: somos a nossa própria natureza.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Rotina, rotina

Não existe nada mais voraz do que a rotina, que nos envolve silenciosamente em tramas que se entrelaçam com as nossas realidades, fingindo-se inocente como um bocejar pela manhã. Ao cercar-se de sua vítima, ela sussurra palavras reconfortantes ao final dos dias cansativos, fazendo perceber como é relaxante fazer sempre as mesmas coisas, cumprir o mesmo ritual, todos os dias.

No começo são alguns dias, depois semanas, meses e anos. E os anos passam, a fio. A fio de navalha, cortantes, ceifando os raros anos de vida com que somos brindados no início. Início... qual é o início? Quando foi isso? Realmente houve um início? E ao som de rápidas lâminas se esvaem os nossos anos de existência, resumidos num mantra incansável: cama-banho-roupa-café-trânsito-trabalho-trânsito-lanche-banho-cama...

E você se deita na cama e quer pensar no que fará amanhã... mas amanhã, no que será diferente do que foi hoje? Ou ontem? Qual será a diferença que esse dia fará em nossas vidas? Pode ser que amanheça chovendo, então será algo diferente. Ou pode ser que haja uma passeata para atrapalhar o trânsito. E isso irrita... como é irritante quando tentam nos impedir de alcançar todos os estágios de nossas rotinas!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Um momento

Você acha que pode mudar?
Existe algo no mundo que você queira mudar?
Existe algo em você... e nas pessoas ao seu redor... que você queria mudar?
Onde está a sabedoria das coisas nas quais você acredita?
Você absorve?
Você pode viver como eu vivo?
Pode saborear cada pedaço de sua rotina com a mesma volúpia?
Você pode esquecer?
Que papel faz a idade que você tem, as coisas que não conseguiu viver?
Você faz tudo o que quer?
Entre um trago e outro você consegue soprar a vida?
Existe algum perfume que você nunca esquece?
Há um olhar que lhe tire o fôlego?
Uma dívida que não pode pagar?
Quantos anos mais se passarão na sombra?
Uma vida inteira como essa vale a pena?
Quantas cruzes mais se elevarão para que caia o rancor?
Será que existe mesmo o verdadeiro perdão?
Você consegue se perdoar de verdade?

Você quer mais de sua vida?