Eu vou pintar numa fita um castelo de areia, feito com todas as estrelas do céu, para amarrar seus cabelos que insistem em formar espirais que me tiram daqui, e me levam de volta, e me fazem morrer sem parar de respirar. Vou piscar os meus olhos com força pra saber que dessa vez você não vai sumir quando eu acordar. Vou fazer minhas juras em sagrado silêncio, porque quando eu falo mais alto, parece que ouvem e te levam embora, só pra eu nunca mais sossegar.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Início da noite
O sussurro que vem viajando no vento deita canções de ninar aos ouvidos muito atentos, que esperam o sono, que sonham em sonhar o sonho que todos tentamos sonhar...
Final do dia
Um peso no meio das costas, indo acima quase perto do pescoço. Olhos semicerrados, braços pesados. Sorriso cansado, de felicidade secreta, segredos em respirações entrecortadas. Algumas coisas fazem muito sentido, pequenas descobertas, certezas que não servem para muita coisa, a não ser afirmar quão pouco sabemos das coisas, dos dias, dos olhares, chegadas e partidas.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Ordem
Ouvi alguém chamar o meu nome, no meio da noite, no meio do sono, entre o que existe e o que é sonho. Senti um abraço tão morno em meio ao frio que eu sentia, que a meia noite quase virou meio dia. E toquei uma pele suave como a neve dos prados que ao sol derretia. Despertei fechando os olhos, vivendo o tempo ao contrário, desejando de volta a nudez que minha saudade vestia. E percebi que a distância, por tão grande que fosse, jamais me perturbaria.
Respirei o perfume do vento que levou embora o fogo da vela, e deixou entrar no aposento a desordem da luz cinza do inverno, pálida e bela, em sua quase não existência, como algo que existe em dois mundos ao mesmo tempo. Como a minha lembrança, que resiste aos encantos do esquecimento, me levando sempre de volta, vivendo o tempo ao contrário, devorando toda a distância que se coloca entre os momentos que tivemos antes do arrependimento.
Respirei o perfume do vento que levou embora o fogo da vela, e deixou entrar no aposento a desordem da luz cinza do inverno, pálida e bela, em sua quase não existência, como algo que existe em dois mundos ao mesmo tempo. Como a minha lembrança, que resiste aos encantos do esquecimento, me levando sempre de volta, vivendo o tempo ao contrário, devorando toda a distância que se coloca entre os momentos que tivemos antes do arrependimento.
Longas
Os longos caminhos, as estradas estreitas, as pedras tão secas, bancam espinhos. A jornada termina onde o fim recomeça. O fim e o começo são gêmeos siameses ligados ao tempo, e que não entendemos. Mecanismos complexos de simplicidade excêntrica, equações desconexas desnudando a inocência.
O que foi sempre seu termina onde começa o que é dos outros, e aos outros não importa se nos importamos com o que pensam. O que pensamos é nosso, nosso pobre sustento, e vivemos a vida vivenciando momentos. Pedaços quebrados da obra completa que chamamos de simples coincidência.
O que foi sempre seu termina onde começa o que é dos outros, e aos outros não importa se nos importamos com o que pensam. O que pensamos é nosso, nosso pobre sustento, e vivemos a vida vivenciando momentos. Pedaços quebrados da obra completa que chamamos de simples coincidência.
Curtas
Quanto mais descobrimos, menos sabemos. Quanto mais profundos os mistérios, mais superficiais os desejos. Quanto mais demorado o ensaio, mais rápido o erro. Quanto mais complexo o problema, mais simples a solução. Quanto maior o cansaço, menor o descanso. Quanto mais, quanto menos. A certeza é o de menos.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Vórtice
Contemplação. Entendimento. Compreensão. Elementos, tão elementares quanto qualquer matéria-prima. Pilares, edificações. Sustento. Tão enigmáticas em simplicidade quanto em mistério. Qualidades não raras nos que buscam as verdades. Tão assustadoramente claras em seus processos e fases. Doces, suaves, amargas.
Desde a infância de tudo o que existe, a dúvida resiste. Um vazio, uma lacuna, como dois pontos suspensos que evitamos religar. Evitamos pelas dúvidas, pelas certezas, pelas dívidas. Fugimos pela saudade que sentimos daquilo que, já sabemos, deixaremos para trás. Os pequenos vícios, as pequenas faltas, os doces pecados.
A muralha frágil que construímos certamente não vai resistir ao avanço da consciência, hora ou outra. Viajante incansável, ela não pára de avançar. E, inexoravelmente, vai nos alcançar. E é bom estar preparado, pois ela é mais que os pesos que sentimos sobre o pescoço, ou sobre os ombros. Ela é o peso de tudo o que escolhemos.
O que sabemos é tão pouco. É apenas o básico para sobreviver. E mesmo assim estamos sempre atrapalhados, hesitando entre o certo e o errado. É tão pouco, insignificante. E a cada geração vamos nos superando, um passo à frente, três para trás. Nossa evolução é inconstante, como nossos laços, todos frouxos, duram apenas um instante.
E mesmo assim existem os que acreditam que podemos ir adiante. Chegar, finalmente, a uma condição mais digna. Trabalham por nós, olham por nós, ignorados sob o manto do anonimato. Exercitam o amor, na forma mais pura. E, mesmo que os releguemos às sombras, não desistem. Pois sabem que fazemos isso apenas pelo medo.
O medo que temos de perceber que não estamos sós, que somos falhos, que atrapalhamos o equilíbrio. O medo que temos de descobrir quem realmente somos.
Desde a infância de tudo o que existe, a dúvida resiste. Um vazio, uma lacuna, como dois pontos suspensos que evitamos religar. Evitamos pelas dúvidas, pelas certezas, pelas dívidas. Fugimos pela saudade que sentimos daquilo que, já sabemos, deixaremos para trás. Os pequenos vícios, as pequenas faltas, os doces pecados.
A muralha frágil que construímos certamente não vai resistir ao avanço da consciência, hora ou outra. Viajante incansável, ela não pára de avançar. E, inexoravelmente, vai nos alcançar. E é bom estar preparado, pois ela é mais que os pesos que sentimos sobre o pescoço, ou sobre os ombros. Ela é o peso de tudo o que escolhemos.
O que sabemos é tão pouco. É apenas o básico para sobreviver. E mesmo assim estamos sempre atrapalhados, hesitando entre o certo e o errado. É tão pouco, insignificante. E a cada geração vamos nos superando, um passo à frente, três para trás. Nossa evolução é inconstante, como nossos laços, todos frouxos, duram apenas um instante.
E mesmo assim existem os que acreditam que podemos ir adiante. Chegar, finalmente, a uma condição mais digna. Trabalham por nós, olham por nós, ignorados sob o manto do anonimato. Exercitam o amor, na forma mais pura. E, mesmo que os releguemos às sombras, não desistem. Pois sabem que fazemos isso apenas pelo medo.
O medo que temos de perceber que não estamos sós, que somos falhos, que atrapalhamos o equilíbrio. O medo que temos de descobrir quem realmente somos.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Má temática
O amor é resultado de uma equação composta de diversos elementos. Sem esses elementos, que são essenciais, mas diferentes para cada um, não há amor. Nós todos, em nossa pequenez, queremos sempre ir direto ao resultado, quando o importante é resolver a equação em si.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Filiação poética
As ruas, vielas, encruzilhadas. Estradas, caminhos. Passos esquecidos, distantes no tempo. Foto apagada, folhas ao vento. Céu de outono, inverno adentro. Primavera e verão, verão os efeitos dos verões que se foram, guardados no peito. E no peito sussurram corações sedentos de paixões e ensinamentos sobre o que se foi, o que está sendo, e o que será de tudo que existe neste mundo imperfeito.
As pedras, pedrinhas, rochas, montanhas que rasgam os horizontes. Com cumes agudos, gastos, distantes. As velhas fronteiras de antes, demarcadas por sonhos e chances, tentativas e erros, acertos, levantes. A bagagem que enverga as costas do viajante. Noites veladas pelas estrelas e luas, crescentes, cheias, minguantes. Um minuto se passa, então outro, e mais um. O tempo é nosso amigo em comum.
E pelas frases escritas em paredes, papiros, folhas. Rolos de filme, garrafas e rolhas, a jornada será longa. Cheia de encontros, pontualidades e atrasos. Marolas e ondas. A areia da praia nos separa de vidas diferentes, de formas diferentes, ao sabor das brisas, dunas brancas e lisas. Indo e vindo ao sabor do acaso, da agulha da bussola, da vela estendida. E depois dessa lida, outra vida.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
O dia é do sol. A noite, da lua
E entre a luz e a escuridão estamos nós, com o pé hora ali, outra aqui. No meio do caminho, entre uma coisa e outra, entre a pergunta e a resposta. E é muito difícil perceber o que nos leva até lá, e o que nos arrasta de volta. A miopia da dualidade, a disfunção dos egos, o orgulho e a vaidade por conquistas tão pequenas. E vamos nós, hora vestidos de peões, hora de reis ou rainhas, andando entre quadrados brancos e pretos, presos em torres solitárias, açoitando cavalos de batalha. Perto do final, nas horas aflitivas, recorremos ao Desconhecido, buscamos a Religação. E, após amparados, vamos diretamente para novo desafio, legando ao esquecimento O Que mais nos auxiliou.
Entre o certo e o errado vamos nós, com nossas consciências pueris, tão soberbos na acidez absorvida durante o que chamamos de experiência de vida, inebriados com o que dizemos e mostramos com nossas pequenas maldades e humilhações. Entre a rebeldia e o temor vestimos nossas armaduras ou farrapos, a falta de noção ou o que resta de bom em nossas condutas. Nos mostramos e nos escondemos ao bel prazer do prazer que sentimos quando temos a liberdade de exercer dominação através de ações e palavras impensadas e inflexíveis. E ao terror que nos deleita, estampado nas faces daqueles nos cercam, ousamos dar o nome de respeito.
Mas chega uma hora em que é hora de escolher um lado, de tomar partido, de reformar a intimidade. Sempre chega, para todos, não há exceção para esta regra. É Lei, e dela não se pode fugir. E entre culpados e inocentes já não há mais inocentes, nem entre os peões, nem entre a realeza. É o momento da escolha que tanto nos atormenta, seja no começo, no durante, ou apenas no final. É a hora de escolher entre o egoísmo e a reforma, entre a pompa e o perdão. Entre o sol e a lua estão as voltas que demos nos finitos círculos do tempo que nos foi dado de graça, por bondade. E o que fizemos com tal presente? Teríamos guardado no coração ou esquecido num armário?
Entre o certo e o errado vamos nós, com nossas consciências pueris, tão soberbos na acidez absorvida durante o que chamamos de experiência de vida, inebriados com o que dizemos e mostramos com nossas pequenas maldades e humilhações. Entre a rebeldia e o temor vestimos nossas armaduras ou farrapos, a falta de noção ou o que resta de bom em nossas condutas. Nos mostramos e nos escondemos ao bel prazer do prazer que sentimos quando temos a liberdade de exercer dominação através de ações e palavras impensadas e inflexíveis. E ao terror que nos deleita, estampado nas faces daqueles nos cercam, ousamos dar o nome de respeito.
Mas chega uma hora em que é hora de escolher um lado, de tomar partido, de reformar a intimidade. Sempre chega, para todos, não há exceção para esta regra. É Lei, e dela não se pode fugir. E entre culpados e inocentes já não há mais inocentes, nem entre os peões, nem entre a realeza. É o momento da escolha que tanto nos atormenta, seja no começo, no durante, ou apenas no final. É a hora de escolher entre o egoísmo e a reforma, entre a pompa e o perdão. Entre o sol e a lua estão as voltas que demos nos finitos círculos do tempo que nos foi dado de graça, por bondade. E o que fizemos com tal presente? Teríamos guardado no coração ou esquecido num armário?
Dias que quebram a cabeça
Se cada dia é uma peça do Quebra-Cabeça, está difícil conseguir colocar esses dias em seus devidos lugares a tempo, antes que o próximo já esteja na mesa, aguardando sua vez de se encaixar.
Mantra diário
Nós vivemos felizes os dias de nossa abundância, e não nos importamos com a escassez que deixamos, como sobras, para os outros. Os outros, que percorrem pelas ruas os caminhos longos e frios, secos e sujos. Os outros, que sonham dias perfeitos, deitados em travesseiros e camas de concreto, aquecidos por mantas de papelão, sob um teto que é qualquer céu que se apresente.
Nós vivemos felizes as noites de nossa ganância, e não nos incomodamos com os odores que nossos muros, grades, portas e janelas mantém à distância. Uma distância segura, que colocamos entre a nossa sede de querer sempre mais, e de ajudar sempre menos. Uma distância entre nós e as histórias anônimas que vagueiam sem rumo, sem rosto, sem banhos quentes ou roupas sem rasgos.
Nós trabalhamos duro e achamos que merecemos tudo o que temos. E o que tivermos além disso, também é muito justo, pois o nosso suor vale dinheiro. E o nosso dinheiro é sagrado, pois vem do cansaço de dias insanos, de vidas incompletas, relacionamentos frustrados, orgulho e soberba. Achamos que merecemos o que temos, e não precisamos dividir com desconhecidos.
Somos, no fundo, infelizes.
Nós vivemos felizes as noites de nossa ganância, e não nos incomodamos com os odores que nossos muros, grades, portas e janelas mantém à distância. Uma distância segura, que colocamos entre a nossa sede de querer sempre mais, e de ajudar sempre menos. Uma distância entre nós e as histórias anônimas que vagueiam sem rumo, sem rosto, sem banhos quentes ou roupas sem rasgos.
Nós trabalhamos duro e achamos que merecemos tudo o que temos. E o que tivermos além disso, também é muito justo, pois o nosso suor vale dinheiro. E o nosso dinheiro é sagrado, pois vem do cansaço de dias insanos, de vidas incompletas, relacionamentos frustrados, orgulho e soberba. Achamos que merecemos o que temos, e não precisamos dividir com desconhecidos.
Somos, no fundo, infelizes.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Mensagem pra você
Faça o possível, mas faça com amor. Ame o que é possível, para evitar a dor. Veja com bons olhos, e poderá também mostrar que é bom. Ouça com paciência, e não precisará fazer nenhum julgamento. Pois o julgamento inibe o perdão, e sem perdão não há liberdade. Sem liberdade, são todos prisioneiros: os réus, os juízes e os jurados.
domingo, 22 de agosto de 2010
Limites
Testamos nossos limites no dia a dia, mesmo contra a vontade, conta tudo e contra todos. Nas amarguras de quem está acima, nas desventuras de quem está abaixo, nos tropeços e acertos de quem está ao nosso lado.
Testamos nossos limites ao acordar pela manhã, perdidos entre tantos afazeres ou tão poucas coisas a fazer. Sobrevivemos a noites de insônia ou pesadelo, sonhos bons, projetos, realizações, o que passou, o que está por vir.
Testamos nossos limites contra os limites das pessoas, sejam elas as que amamos ou quaisquer outras. Falamos, gritamos, sussurramos, depende de quem nos ouve, depende de quem nos fala. Somos uns entre muitos.
Testamos nossos limites contra nós mesmos, em nossa teimosia, em nossa insistência. Em nossa desistência, em nossa complacência. Testamos nossos limites nos muitos erros e pouco acertos.
E vai indo a saúde. E vai indo a sanidade. E vai indo o esforço. E vai indo o conteúdo...
Testamos nossos limites ao acordar pela manhã, perdidos entre tantos afazeres ou tão poucas coisas a fazer. Sobrevivemos a noites de insônia ou pesadelo, sonhos bons, projetos, realizações, o que passou, o que está por vir.
Testamos nossos limites contra os limites das pessoas, sejam elas as que amamos ou quaisquer outras. Falamos, gritamos, sussurramos, depende de quem nos ouve, depende de quem nos fala. Somos uns entre muitos.
Testamos nossos limites contra nós mesmos, em nossa teimosia, em nossa insistência. Em nossa desistência, em nossa complacência. Testamos nossos limites nos muitos erros e pouco acertos.
E vai indo a saúde. E vai indo a sanidade. E vai indo o esforço. E vai indo o conteúdo...
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Oração das seis
O valor do trabalho, a labuta diária, a obsessão pelo atalho, o medo da falha. Enterre o passado, seja feliz, a hora é agora, o especialista é quem diz. O importante é o resultado. Eis o supremo juiz.
E o valor de tudo isso, do suor sem respeito, é o horário apertado, é o aperto no peito. É a dor de cabeça, as crianças sozinhas, tão independentes, tão bonitinhas. Tão solitárias, brincando sozinhas.
O que enobrecia agora empobrece, o sentido da vida agora apodrece. São números, reuniões, relatórios. É a escravidão da liberdade moderna tornando o que temos lá fora apenas mais um acessório.
E o valor de tudo isso, do suor sem respeito, é o horário apertado, é o aperto no peito. É a dor de cabeça, as crianças sozinhas, tão independentes, tão bonitinhas. Tão solitárias, brincando sozinhas.
O que enobrecia agora empobrece, o sentido da vida agora apodrece. São números, reuniões, relatórios. É a escravidão da liberdade moderna tornando o que temos lá fora apenas mais um acessório.
Não somos, mostramos
O segredo, guardado, escondido. Passado. Presente, futuro. Eu tento, eu juro. Existe mais do que existe aos olhos do mundo. E gira, o mundo, do claro ao escuro. Do certo ao errado, o segredo. Guardado.
A confissão e o desvio, o fogo e o pavio. A bomba explode de fora para dentro. Eu sei, eu entendo, não existe coragem sem medo. Nem piedade ao alheio. O que está feito, está feito. Morreu o sorriso. No segredo, escondido.
O desvio do olhar, a meia palavra. São metade do fim, são a chave da trava. A vida é assim. Um ir e voltar, para sempre. Assim. O segredo guardado é o medo do fardo, pesado de erro, jogado nas costas, vivendo no ermo.
O ermo de nós, o abismo entre nós, o vácuo das decisões que tomamos distorcendo o que nos tornamos. Estranhos, inimigos. Declarados, decididos. Magoados, escondidos. Segredos, os somos. Secretos e tolos.
A confissão e o desvio, o fogo e o pavio. A bomba explode de fora para dentro. Eu sei, eu entendo, não existe coragem sem medo. Nem piedade ao alheio. O que está feito, está feito. Morreu o sorriso. No segredo, escondido.
O desvio do olhar, a meia palavra. São metade do fim, são a chave da trava. A vida é assim. Um ir e voltar, para sempre. Assim. O segredo guardado é o medo do fardo, pesado de erro, jogado nas costas, vivendo no ermo.
O ermo de nós, o abismo entre nós, o vácuo das decisões que tomamos distorcendo o que nos tornamos. Estranhos, inimigos. Declarados, decididos. Magoados, escondidos. Segredos, os somos. Secretos e tolos.
sábado, 7 de agosto de 2010
Olhos
Os olhos escondem o sorriso e a lágrima. Escondem o sentir e o pensar. Escondem percepções e idéias, dúvidas e aprendizados. Os olhos podem brilhar mesmo se não houver luz, podem ver mesmo que através de óculos. Podem ver além do que existe. Os olhos se abrem e se fecham mais rápido do que muitas coisas, mas muitas coisas acabam-se tão rápido quanto o piscar dos olhos.
sábado, 31 de julho de 2010
Igual, diferente, tanto faz...
Está tudo igual. As cortinas, os tapetes, o sol na sua posição habitual para essa época do ano. A quietude, com seus cantos de pássaros, o ponteiro do relógio, as revistas, os livros, os quadros. Está tudo igual. Simplesmente como antes. Da mesma forma em que tudo foi deixado, de um jeito cuidadosamente descuidado. Os móveis que não combinam, as paredes levemente manchadas. As lembranças de outros dias ecoando pelos cantos quase sem poeira, quase limpos, quase tudo... do mesmo jeito.
Está tudo diferente. Todas as cores mudaram suas nuances e seus brilhos, suas aparências enganosas e tão frágeis. Está tudo tão diferente desde então, quando todos os sonhos eram claros, cristalinos, bem diferentes dos borrões disformes de hoje. O hoje... com suas sombrias verdades escondidas sob escombros que mais parecem louça suja na pia, porém cuidadosamente organizada, só para não dar a impressão de uma grande confusão. A confusão, com tanto ruído e pouca demonstração de compaixão ou cumplicidade, tanto conteúdo agressivo e tanto... Vazio.
Está tudo diferente. Todas as cores mudaram suas nuances e seus brilhos, suas aparências enganosas e tão frágeis. Está tudo tão diferente desde então, quando todos os sonhos eram claros, cristalinos, bem diferentes dos borrões disformes de hoje. O hoje... com suas sombrias verdades escondidas sob escombros que mais parecem louça suja na pia, porém cuidadosamente organizada, só para não dar a impressão de uma grande confusão. A confusão, com tanto ruído e pouca demonstração de compaixão ou cumplicidade, tanto conteúdo agressivo e tanto... Vazio.
Curtas
Algumas pessoas deixam saudades, outras deixam feridas, outras nem têm mais importância. Algumas pessoas falam, outras escutam, algumas impõem, outras dispõem. Algumas pessoas sentem, outras mentem, algumas constroem, outras destroem. Algumas pessoas amam, outras enganam, algumas fogem, outras se escondem.
Sol e céu azul
Quando tudo parece certo, está tudo errado. Quando uma direção parece a correta, na verdade é apenas o atalho para um lugar mais distante. Quando o coração se revolta, parece que é por motivo algum. Quando a decepção nos alcança, é porque entendemos todos os motivos, todos os erros, e os poucos acertos.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Indo e vindo
A fé e a falta da fé nos conduzem para o mesmo destino, embora sejam caminhos diferentes. Às vezes opostos, às vezes iguais. Depende do que levamos de bagagem.
Meios que justificam
A luta é para saber quem vai cair primeiro, quem vai desistir, quem vai entregar os pontos. A luta é para saber quem vai prevalecer, quem vai subjugar. A luta é para magoar, e ferir. A luta é para desviar o olhar, para não perceber que a dor que nós causamos é tão triste de se ver.
A luta é por controle, posse, obsessão. A luta é para destruir o que há no coração. É terrível, é covarde, a covardia é o fogo que não arde. A arma do fraco, a coragem vacilante, e o amor que nós sentimos, perdemos num instante. A luta é para sobreviver às guerras que criamos.
E no final nós vacilamos, caminhando apoiados nos escombros, tropeçando. Pisamos e pilhamos, levamos embora qualquer coisa que fique bonita na estante. É o prêmio, festejado, humilhante. É tudo o que tivemos de bonito enrolado em barbante. É o prêmio, é o vazio... Reluzindo, tão brilhante...
A luta é por controle, posse, obsessão. A luta é para destruir o que há no coração. É terrível, é covarde, a covardia é o fogo que não arde. A arma do fraco, a coragem vacilante, e o amor que nós sentimos, perdemos num instante. A luta é para sobreviver às guerras que criamos.
E no final nós vacilamos, caminhando apoiados nos escombros, tropeçando. Pisamos e pilhamos, levamos embora qualquer coisa que fique bonita na estante. É o prêmio, festejado, humilhante. É tudo o que tivemos de bonito enrolado em barbante. É o prêmio, é o vazio... Reluzindo, tão brilhante...
segunda-feira, 12 de julho de 2010
O amor
É muito fácil entender o amor, pois é simples teoria. Realmente difícil é entender o amor que as pessoas sentem, que já não são amor, são amores, diferentes, estranhos, exóticos, bizarros. Paixões, atrações, sexo, desejo. Uma vez satisfeitos, até mais ver, nos vemos depois, falamos semana que vem.
E semana que vem vira amanhã, porque a satisfação dura pouco no mundo de hoje. É preciso sempre mais, nem que seja do mesmo, até que o corpo não responda mais, até que as cenas se confundam, até que os sentimentos se traduzam para o que realmente são. E não são amor. São amores.
E semana que vem vira amanhã, porque a satisfação dura pouco no mundo de hoje. É preciso sempre mais, nem que seja do mesmo, até que o corpo não responda mais, até que as cenas se confundam, até que os sentimentos se traduzam para o que realmente são. E não são amor. São amores.
A esperança
A esperança é esperar sentado, desconfortável, sobre almofadas de sonhos ilusórios. É infantilizar a realidade e pintá-la com tintas que não se apegam. Esperança é o incentivo dos tolos que já não sabem mais explicar onde erraram, com quem erraram, porquê erraram.
A esperança é a última a morrer porque tudo o que não morre na matéria é sonho, e sonho é ilusão. Ilusão é esperança, e fomos nós que criamos essas e outras coisas, para fugir do que foge ao nosso controle, para esquecer o que deixamos escapar de nossas próprias mãos.
A esperança é a última a morrer porque tudo o que não morre na matéria é sonho, e sonho é ilusão. Ilusão é esperança, e fomos nós que criamos essas e outras coisas, para fugir do que foge ao nosso controle, para esquecer o que deixamos escapar de nossas próprias mãos.
A espera
A espera é mais do que os minutos que gotejam, mais do que as horas que anseiam, mais do que os dias que vagueiam. A espera é mais do que o tempo que se arrasta, é mais do que a chuva que nunca passa. A espera é mais do que podemos ver, é tudo o que podemos sentir entre um intervalo e outro de um tempo vazio e silencioso.
A espera é mais do que podemos explicar, ver, tocar. A espera é tudo e nada ao mesmo tempo, corpos dançando no não-tempo e no não-espaço. É estar nu no centro de tudo, sob o olhar de todos, mas sem poder ver com os olhos, falar com a boca ou ouvir com sabedoria. A espera é o intervalo entre o falar e o calar, entre o pensar e o sentir. Entre eu e você.
A espera é mais do que podemos explicar, ver, tocar. A espera é tudo e nada ao mesmo tempo, corpos dançando no não-tempo e no não-espaço. É estar nu no centro de tudo, sob o olhar de todos, mas sem poder ver com os olhos, falar com a boca ou ouvir com sabedoria. A espera é o intervalo entre o falar e o calar, entre o pensar e o sentir. Entre eu e você.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Blink
Um intervalo simples, rápido. As palavras flutuam, mas não se fazem ouvir. Os sons se fundem, num fundo calmo que só existe para deixar claro que tudo ainda existe, aqui, neste lugar em que estamos agora. Um olhar, os olhos brilham. A palavra se corta, não são necessárias palavras. O calor se confunde, os perfumes se misturam. Os lábios se encontram. Um intervalo simples, rápido. Um segundo. Um segundo pode ser capaz de valer mais que uma vida inteira.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Contra a dor
Existe algo fascinante sobre a verdade, que nem sempre conseguimos descrever. É uma vontade de provar que existe muito além do que podemos ver, apenas sentir. É um desejo de saber mais sobre o que pensamos conhecer. Um fascínio que também é medo. Que nos faz recuar, negar, fingir, mentir. Afinal, a verdade é a prova irrefutável de que somos muito, muito propensos a nos distanciar de seus preceitos.
Porque olhar no espelho pode ser muito, muito dolorido.
Mas toda dor é também libertação.
Porque olhar no espelho pode ser muito, muito dolorido.
Mas toda dor é também libertação.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Quero que morram
Que morram as mágoas, os rancores, as dores. Que morram as maldições, as maldades, as falsidades. Que morram os atores dessas peças insensatas, os peões das ações impensadas. Que morram as palavras que machucam, que se calem, sumam. Que morram os dias que mais nos esforçamos para esquecer.
Que morram as perdas, as incertezas. Que as desgraças que nos deprimem cessem, que as consciências pesem. Que morram os momentos deliciosos que passamos com quem agora nos odeia, que morram os ódios que nos rodeiam. Que morram as confidências e os passados, as sinceras e os errados.
Que morram os distúrbios, as pobrezas e infortúnios. Que morram as cidades que devoram as liberdades e as individualidades. Que morram as necessidades, as doenças, as diferenças. Que morram as mortes desnecessárias, as perdas, as ganâncias. Que morram todas as distâncias. Principalmente as que existem entre nós.
Que morram as perdas, as incertezas. Que as desgraças que nos deprimem cessem, que as consciências pesem. Que morram os momentos deliciosos que passamos com quem agora nos odeia, que morram os ódios que nos rodeiam. Que morram as confidências e os passados, as sinceras e os errados.
Que morram os distúrbios, as pobrezas e infortúnios. Que morram as cidades que devoram as liberdades e as individualidades. Que morram as necessidades, as doenças, as diferenças. Que morram as mortes desnecessárias, as perdas, as ganâncias. Que morram todas as distâncias. Principalmente as que existem entre nós.
terça-feira, 27 de abril de 2010
Terças são chatas
Voltar pode ser uma coisa boa, uma grande satisfação. Pode trazer de volta tudo o que era bom e bonito. Voltar pode ser um analgésico para dores insistentes. Pode ser um conforto muito bem vindo para um corpo cansado de andanças e provações, como um tapete limpo onde podemos esfregar os pés descalços.
Voltar pode também ser um grande erro, pois às vezes é preciso seguir em frente e deixar certas coisas para trás. Nesses casos é preciso encontrar a fórmula correta para que o passado não seja peso, mas apenas um tempo que se foi. É uma fórmula difícil de encontrar, por isso muitas vezes o peso já está sobre os ombros antes mesmo que se possa percebê-lo.
No final das contas, nada volta, nada é da mesma maneira, por mais que tudo pareça igual. Pode ser que a casa permaneça igual mesmo depois de um longo tempo de ausência, mas nós certamente estaremos diferentes. Então pode até ser que isso não seja voltar. E pode ser que o simples ato de voltar não exista.
Continuar...
Voltar pode também ser um grande erro, pois às vezes é preciso seguir em frente e deixar certas coisas para trás. Nesses casos é preciso encontrar a fórmula correta para que o passado não seja peso, mas apenas um tempo que se foi. É uma fórmula difícil de encontrar, por isso muitas vezes o peso já está sobre os ombros antes mesmo que se possa percebê-lo.
No final das contas, nada volta, nada é da mesma maneira, por mais que tudo pareça igual. Pode ser que a casa permaneça igual mesmo depois de um longo tempo de ausência, mas nós certamente estaremos diferentes. Então pode até ser que isso não seja voltar. E pode ser que o simples ato de voltar não exista.
Continuar...
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Questões simples. Respostas, nem tanto...
Nossos corações se partem tão facilmente, porque nossos amores são tão frágeis e necessitados de reciprocidade. Nossas lágrimas brotam tão facilmente, porque nunca queremos abrir mão de nossos caprichos.
Quantos amores deixamos para trás nessa caminhada árdua? Quantas possibilidades destruímos sob o peso de nossas inseguranças? Quanto mais teremos que perder para percebermos que o pouco que ainda temos é tudo que podemos ter?
Nossas tristezas se aprofundam porque é impossível nos contentarmos com o que achamos ser muito pouco, mesmo que esse muito pouco seja simplesmente o que precisamos para sorrir. É tão bom sorrir...
Nossas frustrações parecem querer nos engolir todas as vezes em que não conseguimos ter as coisas feitas ao nosso modo, porque sempre achamos que o nosso modo é o modo correto.
Quantos amores deixamos para trás nessa caminhada árdua? Quantas possibilidades destruímos sob o peso de nossas inseguranças? Quanto mais teremos que perder para percebermos que o pouco que ainda temos é tudo que podemos ter?
Nossas tristezas se aprofundam porque é impossível nos contentarmos com o que achamos ser muito pouco, mesmo que esse muito pouco seja simplesmente o que precisamos para sorrir. É tão bom sorrir...
Nossas frustrações parecem querer nos engolir todas as vezes em que não conseguimos ter as coisas feitas ao nosso modo, porque sempre achamos que o nosso modo é o modo correto.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Entre uma coisa e outra
É delicada a linha que separa a lucidez da loucura. É fina, quase invisível. E estoura por qualquer paixão, porque qualquer paixão, para nós, é avassaladora. Qualquer instinto, uma verdadeira revolução. Colocamos tudo ao chão, viramos tudo aos avessos. E batemos no peito com orgulho achando que estamos certos.
quarta-feira, 31 de março de 2010
Outono
O canto de despedida dos pássaros anunciam novos dias, dias diferentes. Os ventos sussurram seus segredos para as árvores, que em respeito mudam suas cores do verde para um tom quase marrom. E, comovidas, choram suas folhas ao chão.
As nuvens movem-se mais velozmente, exibindo-se para a palidez que a luz do sol assume. Os dias tornam-se algo mais curtos, convidando a todos para noites mais claras e frias, para mais abraços e roupas mais aconchegantes e comportadas.
Esse ritual acontece todos os anos, mais cedo ou mais tarde, e não cansa. Há sempre algo diferente, uma luz diferente, um brilho dourado de fim de tarde que nos faz sentir saudades de casa, e de pessoas. Nos lembra um jantar perfumado sobre o fogão.
É a minha estação preferida, sem o calor insuportável do verão, ou as torrenciais chuvas primaveris. Ao mesmo tempo não é desolador como os dias cinzentos do inverno. Tem luz de sol, calor ao meio dia, vento à tarde e frio à noite. É o Outono, mais uma vez.
As nuvens movem-se mais velozmente, exibindo-se para a palidez que a luz do sol assume. Os dias tornam-se algo mais curtos, convidando a todos para noites mais claras e frias, para mais abraços e roupas mais aconchegantes e comportadas.
Esse ritual acontece todos os anos, mais cedo ou mais tarde, e não cansa. Há sempre algo diferente, uma luz diferente, um brilho dourado de fim de tarde que nos faz sentir saudades de casa, e de pessoas. Nos lembra um jantar perfumado sobre o fogão.
É a minha estação preferida, sem o calor insuportável do verão, ou as torrenciais chuvas primaveris. Ao mesmo tempo não é desolador como os dias cinzentos do inverno. Tem luz de sol, calor ao meio dia, vento à tarde e frio à noite. É o Outono, mais uma vez.
sexta-feira, 5 de março de 2010
O relógio faz tic-tac
A prisão à qual nos condicionamos ao longo dos anos, essa que não tem paredes ou grades, essa que não tem vigias em seus muros. Sim, essa prisão da qual é impossível fugir mesmo seguindo os planos mais mirabolantes. Esse nosso lugar comum, ponto de encontro de egos e desesperos. Essa prisão nós criamos com muita esmero.
Um esforço desgastante e contínuo, embora sedutor e canalha. Um primor de engenharia, onde celebramos em ritos a nossa ignorância sem tamanho. É nessa prisão que escolhemos viver, com nosso comportamento de vírus. E dessa prisão, é difícil sair.
Agora, na mudança da maré, ao sol de novos dias, existem aqueles que tentam ir além dos muros, para longe dos faróis de busca. Uma tentativa de obter a liberdade mesmo num momento tão tardio. Mas o esforço é grande para calar estes quase ex-prisioneiros.
Nas páginas dos livros da matéria-mestra estão escritas as linhas que determinaram o nosso presente, que se esforça na tentativa de condenar nosso futuro. Basta ler com atenção para perceber que tipo de erva daninha nos tornamos desde o início.
E todos nós acreditamos em controles, de diversas formas. E tentamos obter algum controle, pois sabemos que isso existe. Pois se existe, então algum controle existe sobre nós e sobre todas as coisas, já que é ilógico pensar que tudo é obra de mero acaso.
Pensando assim fica muito claro que, de tanto forçar as coisas além de nossos próprios limites, é inevitável um rompimento. É inevitável que passemos de atores a platéia, assistindo aterrorizada o ruir dos muros que nos prendem. Nos sentiremos ameaçados sem os muros e as grades. E não saberemos o que fazer com tamanha liberdade.
Um esforço desgastante e contínuo, embora sedutor e canalha. Um primor de engenharia, onde celebramos em ritos a nossa ignorância sem tamanho. É nessa prisão que escolhemos viver, com nosso comportamento de vírus. E dessa prisão, é difícil sair.
Agora, na mudança da maré, ao sol de novos dias, existem aqueles que tentam ir além dos muros, para longe dos faróis de busca. Uma tentativa de obter a liberdade mesmo num momento tão tardio. Mas o esforço é grande para calar estes quase ex-prisioneiros.
Nas páginas dos livros da matéria-mestra estão escritas as linhas que determinaram o nosso presente, que se esforça na tentativa de condenar nosso futuro. Basta ler com atenção para perceber que tipo de erva daninha nos tornamos desde o início.
E todos nós acreditamos em controles, de diversas formas. E tentamos obter algum controle, pois sabemos que isso existe. Pois se existe, então algum controle existe sobre nós e sobre todas as coisas, já que é ilógico pensar que tudo é obra de mero acaso.
Pensando assim fica muito claro que, de tanto forçar as coisas além de nossos próprios limites, é inevitável um rompimento. É inevitável que passemos de atores a platéia, assistindo aterrorizada o ruir dos muros que nos prendem. Nos sentiremos ameaçados sem os muros e as grades. E não saberemos o que fazer com tamanha liberdade.
Conjecturas absurdas
É preciso ter cuidado com o que pedimos, porque o pedido pode ser atendido, tornando-se verdade. E a verdade é um espelho que nem sempre reflete os ângulos que queremos ver.
É preciso pensar muito bem antes de fazer um pedido, já que uma série de conseqüências espera por trás de nossas decisões. Mas nos parece muito estranho que, para decidirmos um começo, devamos já imaginar um fim. Parece algo totalmente antinatural, isso a que dão o nome de cautela.
É preciso saber até que ponto estamos dispostos a ir, que preços seremos capazes de pagar. Afinal, pode ser que ultrapassemos o ponto seguro para retorno, e então será tarde demais.
É preciso pensar muito bem antes de fazer um pedido, já que uma série de conseqüências espera por trás de nossas decisões. Mas nos parece muito estranho que, para decidirmos um começo, devamos já imaginar um fim. Parece algo totalmente antinatural, isso a que dão o nome de cautela.
É preciso saber até que ponto estamos dispostos a ir, que preços seremos capazes de pagar. Afinal, pode ser que ultrapassemos o ponto seguro para retorno, e então será tarde demais.
quarta-feira, 3 de março de 2010
O que eu quero é o que eu não tenho
Entre o que desejamos e o que temos há uma distância enorme. Pode ser a distância da falta de diálogo, ou os quilômetros de uma longa estrada. A falta de coragem, ou o excesso de confiança. Pode ser uma enorme timidez ou auto-proteção. Um olhar de desejo ou lágrimas magoadas.
As distâncias se apresentam de formas variadas, criando abismos entre nós mesmos. Entre os que se amam e os que se odeiam. Entre os que se desejam e os que se despedem. Pequenos abismos difíceis de transpor, mas tão fáceis de conceber. Um passo em falso, e a distância se faz verdadeira.
Mas vale muito a pena eliminar coisas tão dolorosas.
As distâncias se apresentam de formas variadas, criando abismos entre nós mesmos. Entre os que se amam e os que se odeiam. Entre os que se desejam e os que se despedem. Pequenos abismos difíceis de transpor, mas tão fáceis de conceber. Um passo em falso, e a distância se faz verdadeira.
Mas vale muito a pena eliminar coisas tão dolorosas.
Nossas histórias, e nossos tempos
Nós perdemos tempo tentando encontrar o significado das coisas, para termos a certeza de que sabemos o que estamos fazendo. Nós perdemos tanto tempo com isso que nos esquecemos de viver.
Viver é entender o que vivenciamos, com intensidade, serenidade e profundidade. Mas o que fazemos é o inverso. Apenas planejamos. Planejamos a felicidade para a velhice, e o que é bom vai ficando para trás a cada segundo que jogamos fora.
Viver é entender o que vivenciamos, com intensidade, serenidade e profundidade. Mas o que fazemos é o inverso. Apenas planejamos. Planejamos a felicidade para a velhice, e o que é bom vai ficando para trás a cada segundo que jogamos fora.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Minuto
Pode ser silêncio, ou gritaria. Pode ser perdido, pode ser início. Pode ser um fim, pode ser um filho. Pode ser o que vier.
Blocos
O bloco vai passar, com seu som enfurecido e sua multidão enlouquecida, seguindo em passos lentos, fazendo a poeira levantar. O bloco vai partir, já raiou o novo dia, todos já vestem a fantasia, toda a nudez vai desfilar.
O bloco vai pousar, sobre outros blocos e depois virão mais outros, um em cima do outro, outro em cima de um, todos juntos dão forma a um. Um muro, uma fronteira, uma divisão. Um limite para toda a diversão.
O bloco vai pousar, sobre outros blocos e depois virão mais outros, um em cima do outro, outro em cima de um, todos juntos dão forma a um. Um muro, uma fronteira, uma divisão. Um limite para toda a diversão.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Sabotagem
Somos todos inimigos de nós mesmos, optamos por sofrer. Escolhemos os caminhos mais tortos, nem nos preocupamos. Nem ligamos se vamos bater de novo a cara na porta.
Gostamos de uma discussão, adoramos esmurrar a ponta da faca. Quando tudo está correndo muito bem não dispensamos uma boa alfinetada, também não hesitamos em reagir.
Levamos muito a sério os mais insignificantes detalhes e ignoramos as grandes questões. Fechamos os olhos, nos escondemos de nós mesmos e de nossos monstros de estimação.
Depois das brigas escolhemos nos afastar ao invés de trocar um abraço e pedir desculpas. Achamos que pedidos de desculpas são derrotas amargas, e amargamos o afastamento.
No final das contas somos o que conseguimos ser, e fazemos o que podemos, mesmo sem pensar, para o bem e para o mal. No final das contas erramos querendo apenas acertar.
Gostamos de uma discussão, adoramos esmurrar a ponta da faca. Quando tudo está correndo muito bem não dispensamos uma boa alfinetada, também não hesitamos em reagir.
Levamos muito a sério os mais insignificantes detalhes e ignoramos as grandes questões. Fechamos os olhos, nos escondemos de nós mesmos e de nossos monstros de estimação.
Depois das brigas escolhemos nos afastar ao invés de trocar um abraço e pedir desculpas. Achamos que pedidos de desculpas são derrotas amargas, e amargamos o afastamento.
No final das contas somos o que conseguimos ser, e fazemos o que podemos, mesmo sem pensar, para o bem e para o mal. No final das contas erramos querendo apenas acertar.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Surdez de coração
Nós corremos sobre as linhas que demarcam as fronteiras entre o que queremos e o que fazemos. Sobre as linhas que separam o que sentimos do que demonstramos. As linhas que nos separam da realidade.
Nós desenhamos linhas pontilhadas para limitar nossas possibilidades. Linhas cuidadosas, como pequenos passos, circundando, cercando. Mas nunca indo direto ao que realmente interessa.
Nós fazemos de conta que determinamos limites para afogar nossas imaginadas fraquezas, fantasiando de frieza o que mais nos emociona. E fazemos de conta que funciona do jeito que imaginamos.
Nós organizamos tudo de diversas formas, classificando e catalogando. Impomos ordens a tudo e nos esquecemos de que tudo deve acontecer naturalmente. Vivemos tentando exercer um controle que não existe.
Nós escolhemos aqueles que queremos como aliados ou inimigos, baseados em conceitos que nem fomos nós mesmos que criamos, mas que herdamos. Apadrinhamos ignorância e dela pouco conseguimos nos livrar.
Nós não temos coragem suficiente para cruzar as fronteiras porque nos ensinaram que isso levará à guerra. E não nos tocamos de que nem todo confronto precisa ser armado ou ter sangue derramado.
Nós sonhamos com acontecimentos especiais e com pessoas especiais ao mesmo tempo em que deixamos de ser especiais, porque pode ser que alguém não nos ache especiais. Não nos ensinaram a olhar primeiro no espelho.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Noite calada
Se a noite calada resolvesse falar, faria rimas de estrelas com cometas e constelações. Sussurraria versos diversos sobre alegrias e consternações. Faria de nós testemunhas de loucuras etílicas e distorcidas ilusões.
Se a noite calada resolvesse cantar, romperia o murmurar das folhas que dançam na brisa. Transformaria em notas nossas viagens mais loucas, tornando-as tão vivas que seria insuportável percebê-las tão vazias e esquivas.
Se a noite calada resolvesse calar, selaria o envelope dos sonhos, remetendo-nos aos vazios medonhos que tentamos evitar. Encontraríamos de frente o espelho sem notar que é a imagem que vemos que mais deveríamos amar.
Se a noite calada resolvesse cantar, romperia o murmurar das folhas que dançam na brisa. Transformaria em notas nossas viagens mais loucas, tornando-as tão vivas que seria insuportável percebê-las tão vazias e esquivas.
Se a noite calada resolvesse calar, selaria o envelope dos sonhos, remetendo-nos aos vazios medonhos que tentamos evitar. Encontraríamos de frente o espelho sem notar que é a imagem que vemos que mais deveríamos amar.
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