sábado, 5 de dezembro de 2020

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Das idas

Todo mundo se vai, eu me fui, muitos se foram. Muitos voltam, outros não.

Mesmo assim muito fica, mesmo muito depois. Ficam coisas que ninguém sabe se eram reais, ou se eram normais, seja lá o que fossem. No final, cada um vê de um jeito. Cada um entende de um jeito. Cada um dá seu jeito, e vai se virando.

Não sei se já são anos demais, não sei se foram dias de menos, só sei que agora parece que nunca foi o suficiente. Parece saudade mas é outro vazio, um que é mais fundo, sei lá, diferente. É foda explicar tão de longe, tão fora de hora.

Mas é assim que é, é assim que foi. Todo mundo se vai, eu me fui, todos se vão.

Das voltas

Hoje eu eu vi um bosque improvável que me levou de volta à infância. E da infância eu corri por todos os anos da minha vida, e vi que havia vida, em sensações que não existem mais agora. Parece que tudo aquilo foi embora, mas só percebi agora. E foi assim: indo, indo, como se fosse o vento levando, mas não é assim, não. Não, não é. 

Em todo caso parecia que dava pra sentir os perfumes dos matos e os sussurros dos ventos, e invadiram minhas muralhas as vozes e cores de antes, músicas, pessoas, muitas pessoas, ecoando na solidez imensa de paredes bem altas. Paredes que represam a alma, que guardam segredos, que escondem desejos. Foi uma longa lembrança, e foi muito real.

Foi uma coisa tão intensa, num momento tão intenso, que achei que ia morrer. Me senti fraco, sem fôlego, o corpo todo dolorido. Ficando todo inchado, tenso, suor escorrendo, zunido na orelha. Tentava andar, mas a visão ficava embaçada, nariz trancado. Imaginei que não seria difícil me encontrarem, eu estava por perto, então pensei simplesmente em deitar.

Mas não deitei. Só fiquei parado olhando as árvores baixas da beira do bosque, as que eu mais gosto, as que mais me fazem lembrar. E eu achei que ia morrer disso, mas não morri por lembrar. Mas doeu, como doeu, sentir que aquilo tudo ficou tão longe, e isso me fez chorar. Chorar e chorar. E foi o choro que me tirou o folego, que me deixou inchado.

Olha só, achei que chorar me faria morrer. Achei que entender tudo aquilo, mesmo olhando de tão longe, era um sinal de morte iminente. Assim funciona uma mente doente, te faz enxergar o que não existe, te faz fazer tudo ao contrário do que deveria. E, mesmo tendo visto isso, ainda parece que tudo aquilo ficou lá atrás, e não veio comigo. 

Parece que existe um ponto no tempo, lá atrás, onde o elo partiu. E parece que o meu eu verdadeiro também ficou lá, e agora eu sou só isso aqui.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ensaio

A ficha caiu, o tombo rolou. O escombro do tempo que passou, e que passa, sem mais, nem menos. A água que forma o granizo gritado na furiosa queda da tempestade pode ser a mesma contida na melancólica lágrima que cala, suave, as palavras não ditas, de um extremo ao outro. As duas coisas, as mesmas coisas, como o início e o fim. 

A vida se cala no peito inanimado pela falta do tonus, que se esvai ao final dos sonhos que dão lugar ao mundo real. O mundo real, que de real não tem nada que possa ser tocado por este lado, a não ser pelo pensamento. Se é que alguém pensa nisso. Se é que alguém se lembra, depois, como era o antes, quando a vida ainda pulsava nas veias.

Não, ninguém se lembra de como era, a não ser de vez em quando, que é quando chega a saudade, sorrateira, sem sorrisos, matreira. Não, ninguém se importa até que chegue o momento de deitar-se no mesmo leito, para enfrentar o mesmo momento que todos, um dia, hão de enfrentar. O momento inadiável, a regra inabalável. O fim.

Ou o começo, tanto faz, quanto fez. Quantas vezes for preciso. Quantas vezes foi preciso antes dessa, e quantas ainda serão? As perguntas nunca se calam, mas as respostas perdem suas vozes dentro de passados tão distantes, de histórias tão distintas, caminhos tão errantes.

Tudo isso serviu para alguma coisa?

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A ampulheta e o cavalo

Se está tudo errado, então é hora de fazer o certo. Mas não é confortável fazer o mais difícil, quando o mais fácil é tão fácil. Ainda mais nas grandes cidades, cheias de atalhos para qualquer hora do dia, ou da noite. Está tudo nas avenidas, nas ruas, nos becos. Os labirintos das favelas, os jardins dos condomínios. Tudo o que existe aqui, existe de ambos os lados das grades. Como nós, a nossa obra, o nosso orgulho. Nosso egoísmo.

Mesmo com tudo estando tão errado, quase não se vê quem está fazendo o certo. Porque o certo, certamente, não aparece tanto, já que é feito nos silêncios individuais. Os silêncios dos poucos que se calam diante das calamidades que deformam o bom caráter. Os poucos que olham para dentro, ao invés de olhar para fora, cheios de coragem considerada covarde pela imensa maioria. Uma maioria que treme de medo dos espelhos.

Há monstros nos espelhos, há conteúdos nos vazios, mesmo nos que parecem mais vazios. E são esses os que mais assustam, pois isolam-se em sono insone. Amontoados, amedrontados pela quietude abrasadora das Verdades que tanto tentam mascarar atrás das máscaras de si mesmos. E, como todos, eu também tenho uma máscara de mim mesmo. E também há monstros nos meus espelhos. E eu também prefiro os atalhos.

Mas mesmo que continue tudo errado, decidi que vou fazer o certo. Não sei quem vai ajudar, se é que alguém vai se dar a este trabalho. Não sei o que farei, nem sei por onde começar. Mas já não quero mais fazer parte do erro, eu quero ir para o lado do acerto, mesmo que apareçam muitas contas a acertar. Pois se eu não acertar agora, então é melhor me retirar. Porém não é isso o que eu quero, porque sinto que não é isso que vim fazer.

E, já que está tudo errado, tentar fazer o certo pode ser que dê certo. Porque, às vezes, é no retorno que está o caminho certo. Mas parece ser hora de se apressar, porque é visível que muito tempo já foi perdido. Muito, muito tempo, muita vida, muita gente. Muito vai e vem. O tempo, agora, pressiona em urgência. Não tem mais paciência, pois suas areias vão escorrendo. E o cavalo quer correr, mas só poderá quando puder.

E, até lá, só nos resta tentar fazer o certo.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Juros

Juro que queria ter algo bom pra dizer, boa notícia pra dar. Mas esses dias escuros, com seus ventos cruzados, só me fazem pensar. E quando penso, dou de cara com o peso de tudo. A fraqueza, e seus muros. Suas bocas dentadas cravadas nas pernas que tremem, nos pés que descascam, cheios de furos. Pensar olhando no espelho é difícil pra burro.

Juro que tenho algo bom pra contar, tenho certeza, é só procurar. Mas aqui dentro é escuro, difícil de ver, cheio de lodo e limbo e tudo que faz o estômago rodar. Tinha aquele negócio, que aconteceu outro dia. Acho que lembro, foi ontem. Anteontem, não sei. A lembrança me trai de propósito, ri de rolar. Ri da minha cara de otário quando tento lembrar.

Juro que havia algo bonito, guardado aqui dentro. Eu vi de manhã, só não sei se foi hoje. Ou se foi ontem, ou no ano passado. Importa isso agora? De tanto pensar no tempo, no quando, o lance fugiu e não tenho nada a dizer. Só fico calado assistindo a parede tombar. Você crescendo tão rápido, todo mundo indo tão rápido. E eu tão quieto, do lado de cá.

Juro que nunca mais vou jurar, seja por qual santo for, porque minha cabeça já está até a tampa. Lotada de vazios e lacunas que o tempo desenha, sem graça, fazendo graça da desgraça que é remar o barco na lama, escutando tudo sem ouvir, vendo tudo sem enxergar. Esperando que a esperança funcione sem coração, ou que a fé me mova de lugar.

Juro que não juro mais nada, porque promessa não sei cumprir. Não sei não voltar a errar. Não sei direito fazer o certo e acabo errando o dobro, só de tentar. Às vezes acho isso injusto, mas se justo não sou, também não me cabe julgar. Portanto, não vou jurar nem que calo minha boca. Porque uma hora ou outra, vou precisar te chamar.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mastigando cacos de espelhos

Chegamos. Finalmente, chegamos onde queríamos. Matamos nossos iguais sem nos importarmos com as conseqüências. Essas, que se danem. Fingimos que é para o bem comum. O bem de um monte de gente que se amontoa pelo mundo, em castelos e favelas, desvergonhas e mazelas.

Transformamos nossas vidas em putas tristes, que se vendem por migalhas de um pão sujo e bolorento, mendigadas nas esquinas escuras de um sistema que se alimenta de nós mesmos: de nosso orgulho, de nosso egoísmo. Um sistema só nosso, aperfeiçoado a cada encarnação. Nossa imagem, nossa semelhança.

Hora assassinos frios, hora vítimas inconsoláveis: eis todos nós, vestidos de nós mesmos, disfarçados de nós mesmos, enganando a nós mesmos. Matando ardentemente por mais matéria enquanto no fundo, lá no fundo, nos cagamos de medo do que está prestes a acontecer. E todos sabemos o que vai acontecer.

Vamos morrer nessa vida, todos nós. E vamos encontrar nossos juízes, todos nós. A consciência. E o travesseiro pronto para nosso descanso não será tão fofo quanto fingimos ser agora. Vai doer, vai arder, como dói e arde toda verdade que sufocamos em nossos crimes disfarçados. Vai doer. E por muito tempo.

Nossas crenças infantis não mais esconderão a Eternidade à qual pertencemos, e que tanto ofendemos, e da qual tanto tentamos fugir. Não haverá sono de paz, nem novo Messias. Não há promessa de conforto para tanta deformidade espiritual: desdém, ignorância, idolatria, sensualismo, descaso.

O tempo de mudar pelo amor se foi, há muito tempo. Agora, é pela dor. Todo e cada um que pisa essa Terra desrespeitada sabe o tamanho de seus débitos morais. No meio dessa massa me coloco, pois é ilógico que eu não esteja fadado a esse destino, uma vez que também habito este Mundo. Não sou hipócrita.

Sei o quão caro vou pagar pelo que fiz e pelo que faço.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sonhos indigestos

Sonhos de esperança e igualdade, segurança e caridade, direito e justiça. Esses sonhos não são sonhos para este mundo. Para este mundo, os sonhos são outros, são escuros, são suados, difíceis. São pesadelos alimentados pelo que temos por dentro: uma matéria densa e cruel, cheia de maldades e crimes, desrespeito e falta de vergonha.

Para onde caminham os habitantes inteligentes desse mundo?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Receita

Quando os dias estão assim desajeitados, corridos em horas aflitas, amontoando-se em pilhas desequilibradas, o melhor a fazer é fazer silêncio. Silêncio em respeito à falta de respeito, à intolerância, à mediocridade, à ignorância. Silêncio para respeitar essas e outras escolhas que todos fazem. Silêncio para evitar uma troca inútil de agressões. Silêncio para evitar a violência.

Quase todos os dias, quase sempre, tem sempre alguém querendo fazer bagunça, barulho, confusão. Tem sempre alguém frustrado, ferido, afogado em mágoa e incompreensão. Feito vento na água, pedra no sapato, sapato apertado. Tem sempre alguém querendo, muito, todas as coisas que não são de merecimento. O mundo está cheio de gente assim. Cheio feito saco cheio.

Silêncio. Respeito. Quietude. Segredo. Cabeça baixa às ofensas, porque o egoísmo não tem freio. Não tem forma, nem cheiro. Apodera-se de qualquer um que se distraia na vigilância de seus próprios anseios. Entra e atua, sorrateiro. E depois quase nada se pode fazer, pois se disfarça e finge ser o que não é. E finge muito bem, como se pode ver por aí, pelo mundo inteiro.

Então, silêncio. 

Dor

A dor é a escolha mais racional que um coração calado pode fazer. É o resultado justo da humildade amordaçada. A valiosa recompensa do egoísmo disfarçado. 

A dor é o último recurso do amor rejeitado, que já sem jeito não acha jeito de ensinar o be-a-bá do dia a dia exagerado que nós todos inventamos, pra nós mesmos.

A dor é o trilho para o trem desgovernado que fingimos conduzir. É o alarme intermitente, é o aviso de risco de acidente, é o grito de pavor no desastre iminente. 

A dor é o último apelo, é o guarda da fronteira. Além dela, não há nada: só o vazio. Bem mais vazio que o vazio que semeamos em nossos mundos traiçoeiros.